Resenha de O Cavaleiro das Trevas A Última Cruzada – Panini Comics

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A Panini publicou este one-shot do Batman no final de 2016, e faz parte da “realidade” criada por Frank Miller em sua obra seminal, O Cavaleiro das Trevas, de 1986. A DC Comics está atualmente desenvolvendo nos EUA – e a Panini, aqui no Brasil – uma segunda continuação dessa clássica minissérie, chamada simplesmente de O Cavaleiro das Trevas III, e aproveitou o momentum para lançar esta edição especial.

. Volume de Spoilers: leves.

Com argumento e roteiro do próprio Frank Miller, em parceria com o premiado Brian Azzarello – o mesmo co-autor da atual minissérie, A Última Cruzada conta como foram os últimos dias da dupla Batman e Robin, sendo que na época o menino prodígio era vivido pelo petulante Jason Todd. Ou seja, esta revista é, de fato, um (ótimo) prelúdio para O Cavaleiro das Trevas I.

A história mostra um veterano Bruce Wayne se lamentando pelos efeitos da idade em seu corpo, ao mesmo tempo em que começa a se incomodar com o comportamento excessivamente agressivo de seu parceiro, Jason, nas missões. Isso o atormenta tanto, que passa a ter dúvidas se o rapaz teria o perfil ideal para substituí-lo futuramente. Como de costume, Alfred serve de conselheiro, confidente e amigo de Wayne em vários momentos, trazendo uma boa dose de humanismo para ambos os personagens.

Enquanto isso, apesar do Coringa ser novamente encarcerado pela dupla, outra ameaça aparece em Gotham City, que trará uma pequena dose de mistério e uma grande quantidade de dor e sangue para os heróis.

Além de apresentar o desfecho esperado (claro, para quem sabe o que vai acontecer com o menino prodígio), que justifica o título desta HQ, o roteiro é envolvente, os diálogos são muito adequados para cada personagem e há de fato uma tensão palpitante em toda a história. Ressalta-se que aparecem também outros vilões do elenco tradicional do Batman que ainda não tinham sido usados nas minisséries desta realidade, sendo um deles com uma presença selvagem, brutal e inesquecível. Dizem que Azzarello é o principal arquiteto das histórias da dupla, o que torna ainda mais impressionante sua capacidade de capturar com perfeição o estilo de frases do Miller.

O desenhista escalado para ilustrar este violento conto policialesco é o superstar John Romita Jr. O outrora exclusivo artista da Marvel está há quase dois anos na DC e, pelo visto, está gostando. Sim, ele não tem o apreço de muitos leitores (ao que me consta, esse sentimento é maior no Brasil do que nos EUA), que geralmente o criticam pelos formatos quadrados dos corpos ou pelo pouco “realismo” de seus personagens mas, não há como negar, seu estilo se encaixa muito bem no universo de Dark Knight.

Afinal, não é segredo que Romita Jr. foi influenciado pelo próprio lápis de Frank Miller durante seu amadurecimento como artista, nem tanto pela composição ou layout das páginas, mas mais pela anatomia humana. Sempre achei interessante que tais críticas não se dirigiam também ao mestre Miller. Embora hoje em dia ele não tenha mais o mesmo olho e mãos de outrora, seu estilo no auge sempre foi também econômico nos detalhes anatômicos e altamente estilizado, ou “quadrado”, bastante similar ao de Romita.

Neste trabalho, chama atenção as boas cenas de ação, especialmente a coreografia das lutas, mas também os painéis restritos às “cabeças falantes”, recurso que Miller usou e abusou em sua primeira minissérie e que acertadamente é trazida aqui como elemento de ligação estética das revistas desta realidade. As talking heads surgem em vários trechos com o Coringa e o Batman, mas também no formato de programas de TV, com aqueles comentaristas sarcásticos típicos que surgiram em O Cavaleiro das Trevas I e que nunca mais deixaram de aparecer nos quadrinhos do Batman (e além). São momentos aparentemente simples, mas que muitos artistas têm enorme dificuldade em torná-los interessantes. O veterano John Romita Jr., no entanto, tira de letra.

Peter Steigerwald faz a arte-final e as cores. Embora traga um certo frescor para o lápis de Romita, sem carregar demais a ponto de modificar seu estilo, gostaria de ver a arte-final de Klaus Janson, até porque ele foi o arte-finalista do Cavaleiro das Trevas original, está trabalhando na nova minissérie e é o maior parceiro do desenhista na última década. Mas, enfim, Steigerwald é muito competente e faz um belo trabalho sobretudo nas cores, criando um clima adequado para o tom da história, com pouca variação da paleta, com predomínio de cinzas e, claro, do preto. Mesmo assim, há uma clara distinção para cada um dos ambientes que conduzem a história – basicamente, o Asilo Arkham, a Mansão Wayne e as ruas de Gotham.

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Escolhi a capa alternativa do Bill Sienkiewicz, que destaca o Coringa ensandecido em um primeiro plano, com Batman cerrando os dentes de raiva, logo atrás. É uma cena simples, mas a arte impressiona, coisa típica de um mestre como ele, capaz de transmitir tantas emoções e ideias sem recorrer para poses a la Image.

Como leitor de HQs desde o começo dos anos 80, pude acompanhar o enorme impacto no meio com a chegada do primeiro O Cavaleiro das Trevas, e saber que finalmente a DC conseguiu produzir um prólogo adequado, com a participação do próprio Miller, é ao mesmo tempo uma grande satisfação e um alívio. Muito bem desenvolvida, é uma revista indispensável para qualquer fã do Batman ou do grande elenco de artistas envolvidos. Ajuda também a nos lembrar da gigantesca contribuição dada pelo trabalho de Frank Miller no geral, e pelo Cavaleiro das Trevas em particular, à nona arte.

Nota 8,5.

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