Resenha de Grandes Astros Batman Renascimento #5 – Panini Comics

Ufa, o duelo final!

Finalmente a resenha do último – e decepcionante – capítulo do primeiro arco desta revista, chamado Meu Pior Inimigo, que traz a dupla criativa Scott Snyder e John Romita Jr explorando mais da dupla de eternos rivais Duas-Caras e Batman.

. Volume de Spoilers: médio.

Com tantas frentes abertas nos capítulos anteriores, seria difícil um fechamento simples mas, caramba, não esperava por algo tão tumultuado. Snyder esclarece os motivos da caçada, acrescentando revelações importantes, incluindo um plano secreto megalomaníaco do Duas-Caras em andamento.

Sinceramente, precisei reler três vezes e ainda fiquei confuso. Será que eu deveria ter lido alguma outra história do autor para entender o contexto? Por via das dúvidas, voltei aqui nas minhas próprias resenhas e folheei as edições 1-4. Parece que não, e nem deveria ser diferente, já que a proposta de Grandes Astros era de contar histórias fechadas com uma ambientação diferente.

Mas a sensação de que tudo foi resolvido apressadamente continua, tanto pela revelação do tal plano maluco, que mal faz um fechamento adequado com a questão dos “quilômetros percorridos”, como pela retomada súbita da atitude do sumido Comissário Gordon que invade a Mansão Wayne com um time inteiro de policiais.

E então descobrimos que Alfred tinha um esqueleto no armário, daqueles lá do passado, relacionado a Harvey Dent, e portanto se julga o responsável por toda a confusão? Como é que é? Novamente: eu perdi algo, não?

OK, é compreensível e desejável que Scott Snyder tente fechar tantas pontas-soltas, mas o desenvolvimento é truncado, porque ele não desacelera com a proposta de ação non-stop, com muitos personagens se sucedendo freneticamente… enfim, esta história é terrivelmente caótica e pretensiosa – e não no bom sentido -, com uma sucessão de reviravoltas e soluções que parecem coelhos tirados de uma imensa e furada cartola.

Tanto em questões relevantes, como essa situação envolvendo Alfred, como nas triviais, que convenientemente saem do cinto de utilidades do Batman ou de um compartimento secreto escondido por Dent na casinha que ele e Bruce conviveram na infância… e então Alfred liga no momento certo, para interromper o combate final, no número que o Duas-Caras carregava? Caramba, nunca vi tantas “coincidências” em uma mesma HQ.

Há outras situações que me incomodaram bastante, especialmente a quantidade de ferimentos graves que o Batman sofre ao longo do arco. Vejamos: foi atingido por ácido nos olhos no capítulo 4, o que causou uma certa dificuldade na visão por alguns quadros, e agora já estava plenamente recuperado (?) a ponto de atingir arremessos com precisão e fazer análises clínicas sofisticadas (!). E depois de apanhar bastante do KGBesta e dos soldados da Corte das Corujas na edição anterior, é também empalado no peito e, mesmo assim, consegue ainda feitos hercúleos logo em seguida. Que eu saiba, o Cavaleiro das Trevas ainda não ganhou fator de cura Snyder!

Batman estava quase cego no capítulo anterior, mas agora ele esquiva de tiros do KGBesta e alcança uma placa de fibra de vidro que ele tinha “visto” antes…. sei, sei.

E ainda tem o Pinguim e os demais vilões que pouco acrescentaram à trama, aliás porque eles se envolveram nesta história mesmo?

Batman, Duke e Dent ainda sofrem uma queda mortal numa cachoeira, mas conseguem sair ilesos e encontram convenientemente um veículo para chegarem no destino final… e no meio do caminho uma multidão de gente “do interior” quer matar o Batman, estão armados até os dentes e, de alguma forma, sabiam onde ele estaria (?!) mas, por alguma razão que já nem me importo, na hora que tem a chance, desistem! Pois é…

Honestamente, este fechamento foi uma grande decepção. Não recomendo para nenhum leitor casual do Batman ou que procura uma HQ com um roteiro criativo ou bem desenvolvido. Sem dúvida os batfãs podem se interessar pela ação desenfreada, bem como aqueles que curtem a arte do Romitinha, como é aliás o meu caso, mas fora isso, não justifica o tempo e dinheiro investidos.

Ah, e não tivemos continuação da série de histórias curtas estrelando Duke Thomas. Senti falta, inclusive de uma conclusão adequada também para esse conto. Será que volta nas próximas edições? Eu, definitivamente, não voltarei.

Nota: 4,0.

Resenha de Grandes Astros Batman Renascimento #4 – Panini Comics

Máquina Caça-Níqueis?

Rápida resenha do quarto capítulo desta nova encarnação do título Grandes Astros Batman onde o Cavaleiro das Trevas já enfrentou diversos vilões e, pelo visto, ainda tem mais alguns na fila! A primeira série Grandes Astros (All-Star no original) também tinha Robin no título e foi produzida por Frank Miller e Jim Lee, entre 2005 e 2008, mas nunca foi concluída.

. Volume de Spoilers: nada relevante.

Desta vez, a primeira página mostra uma casinha isolada no meio de um campo, onde há alguém em perigo. Contudo, a partir da página 2, Scott Snyder retoma do ponto anterior, onde Batman estava encurralado nos esgotos com Duas-Caras e um esquadrão de batalha da Corte das Corujas. A luta é árdua e trabalhada com detalhes por John Romita Jr. ao longo de 10 páginas!

O autor novamente dá uma pincelada na infância de Wayne e Dent, mas ignora o sub-plot com o Comissário Gordon que apareceu nas duas primeiras edições, e também não retoma a frenética mudança de tempo da narrativa que era uma espécie de “marca-registrada” da série. Por um lado, isso facilita o entendimento mas, por outro, parece que Snyder simplesmente desistiu (se arrependeu?) do recurso no meio da trama.

Por fim, acontece uma reviravolta… bastante inusitada nas últimas páginas mas que, mantendo nossa proposta de resenha spoiler-free, não comentaremos nada.

No geral, perdi um pouco meu interesse neste arco. “Meu Pior Inimigo” teve um começo promissor pelo ambiente diferente e pelo exército de vilões caçando o morcego – além claro da equipe criativa cinco estrelas – mas as constantes reviravoltas e a própria capacidade física do herói, que foi diversas vezes ferido gravemente mas continua quase 100% (e sem ter um fator de cura…) desgastaram a narrativa.

Também contribuem para essa sensação a mudança de vários elementos na edição anterior, como a chegada de outros chefões do crime, o reaparecimento da KG Besta, a revelação de aspectos da infância entre o protagonista e o antagonista, os novos apetrechos do uniforme extremamente convenientes para as batalhas, a participação de Jarvis, Gordon e Duke… enfim, Snyder decidiu colocar tantos acontecimentos, personagens e situações que tudo fica superficial, sem impacto.

A história conclui na próxima edição.

Duke no elegante traço de Declan Shalvey

A segunda história, “A Roda Amaldiçoada – Parte 4”, até por ser curta, com 8 páginas, obriga foco por parte do autor – também Scott Snyder -, é interessante tanto pelo mistério como pelo drama pessoal de Duke Thomas. A elegante arte de Declan Shalvey e as cores pastéis de Jordie Bellaire criam uma atmosfera atraente, com uma boa narrativa.

Nota: 6,5.

Resenha de Grandes Astros Batman Renascimento #3 – Panini Comics

Batman Vs KGBesta

Rápida resenha da 3a edição do arco de Scott SnyderJohn Romita Jr. Aqui, como a capa já entrega, Batman enfrenta o repaginado mas sempre perigoso KG Besta.

. Volume de Spoilers: zero, ou quase isso.

Snyder mostra, logo na primeira página, que Bruce Wayne e Harvey Dent tiveram uma certa convivência quando crianças. Como não tenho acompanhado as aventuras do Batman nos títulos mensais dos últimos anos, não sei dizer se isso é novidade ou apenas mais um elemento desse período. Mas ajuda no desenvolvimento da história do presente, onde ambos continuam seu embate mas, desta vez, com a intromissão não esperada do perigoso ex-agente soviético KG Besta, eles precisam decidir se se ajudam brevemente ou não.

A primeira aparição desse vilão é um conto clássico dos anos 80, cuja primeira edição brasileira resenhamos aqui no Blog.

Como não poderia deixar de ser, a Besta é força, precisão e violência em estado bruto. O roteirista acrescenta pequenas descrições nos quadros em que ele usa alguma habilidade ou poder, que achei interessante. Também gostei do novo visual desenvolvido por John Romita Jr., que basicamente atualiza o uniforme, com os mesmos elementos centrais do original. Como sempre, o desenhista entrega um trabalho cinematográfico impressionante, enaltecido pela arte-final de Danny Miki e pelas cores de Dean White que, desta vez, me pareceram um pouco carregadas demais em algumas páginas.

O arco perdeu um pouco da força das edições anteriores, porque ao mesmo tempo que introduziu um elemento do passado de Wayne, e um vilão mais eficaz que os anteriores, não continuou com sub-plot do Comissário Gordon do futuro breve e há algumas reviravoltas forçadas.

Também há um momento daquilo que chamo “demonstração gratuita de mortes violentas” (ou DGMV) da parte de um dos vilões que contrataram o KG Besta. É algo que tem me incomodado bastante nas HQs de heróis, não só porque as mortes nesse esquema são geralmente desnecessárias, mas principalmente porque é um artifício exagerado no roteiro para dar uma ideia de “como o vilão é f@#%, veja que frieza, que poder…” – quando muitas vezes ele ou ela não costuma(va) ser assim, ou seja, também é uma enrolação pura e simples, um desperdício de página. Não chega a estragar, mas é mais um ponto que diminui a qualidade geral da história.

Na já tradicional segunda e curta HQ da revista, estrelada por Duke e escrita por Snyder com arte de Declan ShalveyJordie Bellaire, os autores desenvolvem mais da personalidade do jovem herói, com pouca ação mas com boas cenas do passado e do presente e que continua interessante.

Nota: 7,0.

Resenha de Grandes Astros Batman Renascimento #2 – Panini Comics

Batman Vs Duas-Caras por John Romita Jr

Retomando a análise do primeiro arco desta nova revista do Batman, com roteiros de Scott Snyder e arte de John Romita Jr. Atualmente, só tenho comprado duas séries mensais do Renascimento DC – esta e a da Mulher-Maravilha, e pretendo continuar.

. Volume de Spoilers: como sempre, tentamos não ser desmancha-prazeres.

Nesta segunda parte do arco “Meu Pior Inimigo”, apropriadamente intitulada “Comboio para o Inferno”, vemos Batman tentando capturar Duas-Caras que, para escapar, contratou vários supervilões, todos dispostos a espancar impiedosamente o nosso herói. A história começa com embates sobre um trem em movimento longe de Gotham City.

Assim como na edição anterior, há alguns inimigos que eu não conhecia, muito provavelmente porque surgiram nos últimos anos, quando parei de acompanhar as HQs do Homem-Morcego. Portanto figuras como o Rei Tubarão e Jane Doe são novidade para mim, o que é um aspecto positivo, de descoberta, ou melhor, de um primeiro contato que pode ser instigante para pesquisar mais sobre tais personagens (o que de fato eu fiz).

Snyder desenvolve outras duas tramas, todas convergindo para o desfecho da aventura: uma, a alguns dias no “futuro”,  com o Comissário Gordon; e outra com um grupo de chefes do crime. Na verdade, a história em si não avança muito… embora seja tão frenética quanto o capítulo anterior e igualmente divertida.

Como de costume, o morcego parece estar sempre um passo a frente mas, desta vez, parece agir próximo do seu limite. De certo modo, entendo que a superação e a destreza sobre-humanas são grande parte do apelo do herói, mas às vezes o exagero pode trazer um efeito contrário. Afinal, como todos sabem, Batman ainda é Bruce Wayne, um homem dotado de vários talentos, mas ainda um homem. Aqui achei que passou um pouquinho do ponto. O melhor desta edição, sem dúvida, é o final, com a chegada de um antigo e sumido (talvez?) adversário.

Alguns dos supervilões do Batman na arte de Romita Jr., Danny Miki e Dean White

No campo artístico, Romita Jr. e Danny Miki mantém o interesse renovado pelo título, porque conseguem produzir sequências de grande impacto visual, embelezadas pelas cores vibrantes de Dean White. Gostei muito do uniforme do vilão surpresa – aquele do final – repaginado mas mantendo a essência do original. Uma dica: foi criado por Jim Starlim no final dos anos 1980 e há uma resenha aqui no Blog de sua primeira aparição.

A segunda história da revista, apesar das 8 páginas, ou talvez por conta disso mesmo, é bem coesa e retoma alguns acontecimentos da origem de Duke, o novo parceiro do Batman. Declan ShalveyJordie Bellaire fazem uma arte elegante, e a HQ continua interessante, com um bom mistério e um desenvolvimento bem-vindo da relação entre o jovem Robin e seu mentor.

Nota 7,5.

Resenha de Grandes Astros Batman Renascimento #1 – Panini Comics

Capa da nova revista de luxo do Batman

A Panini decidiu lançar uma terceira revista regular do Batman na Fase Renascimento DC com um tratamento diferente: capas cartonadas e miolo com um papel couchê mais encorpado e com mais brilho do que o tradicional LWC. A revista custa R$ 9,90, ou seja, o mesmo padrão da minissérie Cavaleiro das Trevas III, também em andamento.

. Volume de Spoilers: nenhum, leia sem medo.

O acabamento de luxo se justifica pela dupla criativa: Scott Snyder no argumento, roteirista premiado e com uma enorme base de fãs do morcego, que cuidou da mensal do personagem durante a Fase Novos 52, e John Romita Jr. nos desenhos, astro das HQs famoso principalmente pelos seus inúmeros trabalhos na Marvel. O título também é visto dos EUA quase como um evento, por isso recebeu o “selo” All-Stars e é um dos campeões de vendas da DC.

A história, chamada “Meu Pior Inimigo” tem algumas particularidades, que a distingue da maioria das tramas do Batman. Uma delas é o cenário: ao invés de se concentrar nas ruas escuras de Gotham City, veremos nosso herói em ação no campo, nas fazendas, lanchonetes de estrada e em pequenas cidades do interior do estado. Outra diferença é que, embora haja um vilão principal, teremos certamente um enorme contingente de vilões adicionais (alguns que já aparecem aqui eu nem conhecia).

O ritmo é frenético, com muita ação seguida de mais ação, lutas violentas e bons diálogos. Snyder altera sua história entre o presente e flashbacks para explicar, ou melhor, a começar explicar, como o morcegão se envolveu com o atual problema. Embora não seja totalmente inovadora, a premissa tem potencial para um grande arco.

Romita Jr. entrega sua habitual habilidade cinematográfica, com traços mais caprichados do que outros trabalhos, certamente por conta da arte-final detalhista de Danny Miki. As primeiras 3 páginas são uma aula de storytelling, com quadros horizontais de mesmo tamanho para o prelúdio e grandes quadros para a explosão de ação na página dupla. O posicionamento de cada personagem e o ângulo de visão escolhido tornam a leitura extremamente agradável e impactante. É incrível como Romita distribui bem o tempo do leitor quadro a quadro. Outro destaque é a última página, que revela o gancho de forma suave, natural, sem apelações.

Página interna, com uma cena típica de badass batman que muitos fãs esperam

As cenas do campo são lindas, com cores vibrantes de Dean White, outro veterano que completa um time de primeira qualidade. Acho que nunca vi uma história do Batman tão ensolarada como esta mas, não se engane: é, também, perturbadora.

Além da primeira parte da história principal, completa a edição uma história curta, de 8 páginas, também escrita por Scott Snyder mas desenhada por Declan Shalvey e com cores de Jordie Bellaire. Esta dupla artística fez recentemente um trabalho excelente com o Cavaleiro da Lua, da Marvel (saíram em encadernados). “A Roda Amaldiçoada” também terá continuação e apresenta um mistério a ser resolvido por Batman e Duke, seu novo parceiro. Apesar de curta, traz densidade e desperta interesse na continuação.

Edição caprichada e com duas histórias envolventes, com arte de primeira do começo ao fim. Belo início para a nova Grandes Astros Batman.

Nota 8,5.

Resenha de O Cavaleiro das Trevas A Última Cruzada – Panini Comics

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A Panini publicou este one-shot do Batman no final de 2016, e faz parte da “realidade” criada por Frank Miller em sua obra seminal, O Cavaleiro das Trevas, de 1986. A DC Comics está atualmente desenvolvendo nos EUA – e a Panini, aqui no Brasil – uma segunda continuação dessa clássica minissérie, chamada simplesmente de O Cavaleiro das Trevas III, e aproveitou o momentum para lançar esta edição especial.

. Volume de Spoilers: leves.

Com argumento e roteiro do próprio Frank Miller, em parceria com o premiado Brian Azzarello – o mesmo co-autor da atual minissérie, A Última Cruzada conta como foram os últimos dias da dupla Batman e Robin, sendo que na época o menino prodígio era vivido pelo petulante Jason Todd. Ou seja, esta revista é, de fato, um (ótimo) prelúdio para O Cavaleiro das Trevas I.

A história mostra um veterano Bruce Wayne se lamentando pelos efeitos da idade em seu corpo, ao mesmo tempo em que começa a se incomodar com o comportamento excessivamente agressivo de seu parceiro, Jason, nas missões. Isso o atormenta tanto, que passa a ter dúvidas se o rapaz teria o perfil ideal para substituí-lo futuramente. Como de costume, Alfred serve de conselheiro, confidente e amigo de Wayne em vários momentos, trazendo uma boa dose de humanismo para ambos os personagens.

Enquanto isso, apesar do Coringa ser novamente encarcerado pela dupla, outra ameaça aparece em Gotham City, que trará uma pequena dose de mistério e uma grande quantidade de dor e sangue para os heróis.

Além de apresentar o desfecho esperado (claro, para quem sabe o que vai acontecer com o menino prodígio), que justifica o título desta HQ, o roteiro é envolvente, os diálogos são muito adequados para cada personagem e há de fato uma tensão palpitante em toda a história. Ressalta-se que aparecem também outros vilões do elenco tradicional do Batman que ainda não tinham sido usados nas minisséries desta realidade, sendo um deles com uma presença selvagem, brutal e inesquecível. Dizem que Azzarello é o principal arquiteto das histórias da dupla, o que torna ainda mais impressionante sua capacidade de capturar com perfeição o estilo de frases do Miller.

O desenhista escalado para ilustrar este violento conto policialesco é o superstar John Romita Jr. O outrora exclusivo artista da Marvel está há quase dois anos na DC e, pelo visto, está gostando. Sim, ele não tem o apreço de muitos leitores (ao que me consta, esse sentimento é maior no Brasil do que nos EUA), que geralmente o criticam pelos formatos quadrados dos corpos ou pelo pouco “realismo” de seus personagens mas, não há como negar, seu estilo se encaixa muito bem no universo de Dark Knight.

Afinal, não é segredo que Romita Jr. foi influenciado pelo próprio lápis de Frank Miller durante seu amadurecimento como artista, nem tanto pela composição ou layout das páginas, mas mais pela anatomia humana. Sempre achei interessante que tais críticas não se dirigiam também ao mestre Miller. Embora hoje em dia ele não tenha mais o mesmo olho e mãos de outrora, seu estilo no auge sempre foi também econômico nos detalhes anatômicos e altamente estilizado, ou “quadrado”, bastante similar ao de Romita.

Neste trabalho, chama atenção as boas cenas de ação, especialmente a coreografia das lutas, mas também os painéis restritos às “cabeças falantes”, recurso que Miller usou e abusou em sua primeira minissérie e que acertadamente é trazida aqui como elemento de ligação estética das revistas desta realidade. As talking heads surgem em vários trechos com o Coringa e o Batman, mas também no formato de programas de TV, com aqueles comentaristas sarcásticos típicos que surgiram em O Cavaleiro das Trevas I e que nunca mais deixaram de aparecer nos quadrinhos do Batman (e além). São momentos aparentemente simples, mas que muitos artistas têm enorme dificuldade em torná-los interessantes. O veterano John Romita Jr., no entanto, tira de letra.

Peter Steigerwald faz a arte-final e as cores. Embora traga um certo frescor para o lápis de Romita, sem carregar demais a ponto de modificar seu estilo, gostaria de ver a arte-final de Klaus Janson, até porque ele foi o arte-finalista do Cavaleiro das Trevas original, está trabalhando na nova minissérie e é o maior parceiro do desenhista na última década. Mas, enfim, Steigerwald é muito competente e faz um belo trabalho sobretudo nas cores, criando um clima adequado para o tom da história, com pouca variação da paleta, com predomínio de cinzas e, claro, do preto. Mesmo assim, há uma clara distinção para cada um dos ambientes que conduzem a história – basicamente, o Asilo Arkham, a Mansão Wayne e as ruas de Gotham.

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Escolhi a capa alternativa do Bill Sienkiewicz, que destaca o Coringa ensandecido em um primeiro plano, com Batman cerrando os dentes de raiva, logo atrás. É uma cena simples, mas a arte impressiona, coisa típica de um mestre como ele, capaz de transmitir tantas emoções e ideias sem recorrer para poses a la Image.

Como leitor de HQs desde o começo dos anos 80, pude acompanhar o enorme impacto no meio com a chegada do primeiro O Cavaleiro das Trevas, e saber que finalmente a DC conseguiu produzir um prólogo adequado, com a participação do próprio Miller, é ao mesmo tempo uma grande satisfação e um alívio. Muito bem desenvolvida, é uma revista indispensável para qualquer fã do Batman ou do grande elenco de artistas envolvidos. Ajuda também a nos lembrar da gigantesca contribuição dada pelo trabalho de Frank Miller no geral, e pelo Cavaleiro das Trevas em particular, à nona arte.

Nota 8,5.

Clássico Relido: Batman em As Dez Noites da Besta (Editora Abril)

Bem, resolvi inaugurar uma nova sessão no Blog, dedicada às minhas releituras de obras famosas de quadrinhos, heroísticos ou não. A ideia é tentar avaliar se a revista continua sendo tão boa quanto “na época”, isto é, se resistiu bem – ou não – à ação do tempo e da própria evolução do “meio quadrinhos”.

Para inaugurar, selecionei esta história do Batman, enquanto vasculhava minha coleção de revistas nacionais (que não fica no meu apartamento nem na minha cidade…) publicada no Brasil pela Editora Abril há exatos 20 anos (1989), em uma edição encadernada, reunindo as 4 edições das revistas originais (Batman #417-#420). Lembro ainda que foi uma novidade ver uma só história saindo em uma edição volumosa, formato americano e com lombada quadrada.

Aviso: por conta do formato desta análise, há alguns spoilers.

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A História:

A pequena saga, intitulada “As Dez Noites da Besta” foi escrita pelo renomado Jim Starlim e desenhada por Jim Aparo, um dos mais prolíficos artistas do morcego, sendo esta uma de suas últimas colaborações. Não é uma história tida como “clássica” por todos os fãs do personagem ou da DC Comics, mas no geral é citada como referência de boa história e até de bom vilão.
O inimigo é um gigantesco agente da antiga URSS (União Soviética, vocês sabem né? Um dia foi muito importante…) cujo apelido é KGBesta (a KGB era a polícia secreta da URSS) e aqui foi sua primeira aparição. Mestre em várias formas de arte marcial e de armamentos, ele também tinha implantes cibernéticos que aprimoravam sua força e resistência.
A história é simples e bastante linear: com a recente dissolução da URSS, o KGBesta e outro agente são enviados aos EUA para tentar sabotar o mundialmente famoso “Projeto Guerra nas Estrelas”, e passam a matar todos os cientistas e autoridades envolvidas. A trilha dos bandidos chega a Gotham City e, com sucesso, eles vão eliminando todos os alvos. O último é o então presidente americano Ronald Reagan. Batman e o Comissário Gordon se unem ao FBI e à CIA para tentar deter os vilões.

Veredicto: Foi bom de novo?

Sendo bem honesto, não tinha uma memória clara desta aventura; só tinha certeza de que tinha sido “bacana”. Reli duas vezes em alguns dias, tentando analisar o roteiro, os padrões dos diálogos, nuances escondidas… e realmente é um pouco decepcionante, porque é tudo muito simples, com vários clichês. O argumento é bom, como relatei antes, envolvendo o desmanche da URSS, mas o roteiro caminha sem momentos inspirados, as falas parecem escritas no piloto automático, muito diferente de outros trabalhos do Jim Starlim.
O que é bacana mesmo é o KGBesta, que foi um vilão inovador para a – então – requentada e tradicional galeria do Batman: superviolento e totalmente letal, matava sem o menor pudor centenas de pessoas ao longo da saga; não abria a boca para nada irônico e sua máscara, associada ao seu tamanho descomunal, dava um aspecto aterrorizante.
As batalhas também são legais: há muitos confrontos, o Batman é ferido diversas vezes e precisa usar muita força e técnica para nivelar com o adversário.
Já a arte não é muito atraente, mesmo naquela época. O desenhista tinha uma visão ainda light do personagem, e não havia em seu estilo técnicas de narrativa mais modernas e cinematográficas, apesar de algum esforço nesse sentido. Jim Aparo fez trabalhos bem melhores do que este.
Enfim, apesar de distante do perfil de um “clássico absoluto” das HQs, é uma história bastante agradável do Batman; vai depender do quanto o leitor goste de batalhas mais “pé-no-chão” e menos investigação ou planejamento.
Eu realmente ainda acho preferível ler uma história do morcego deste tipo, em que ele é ferido, erra em alguns momentos, se supera e sai por bem no final do que o Batman “super-mega-ultra-infalível” de histórias em que enfrenta e elimina supervilões peso-pesados, ou elabora e executa planos mirabolantes a nível global.
Quanto mais humano e limitado, inteligente e persistente for o morcegão, mais estimulante ele se torna para mim. Logo, gostei da HQ por essa razão, e como passatempo, pelas lutas e pelo novo vilão. Ah, as capas originais do Mike Zeck são maravilhosas, pena que ele não tenha mais trabalhos hoje em dia.

Nota: 7,0.