Revistas Marvel Panini Após Guerras Secretas (Totalmente Diferente Nova Marvel)

all-new-all-different-marvel
Embora muitos títulos das Guerras Secretas continuem nas bancas, e muitos leitores ainda não conseguiram concluir toda a obra (eu, por exemplo), as primeiras revistas no cenário pós evento já foram lançadas pela Panini e outras mais foram anunciadas para breve. Segue um resumo dos títulos, seus mixes e meus comentários. Interessante que a Panini não colocou nenhum “selo” para marcar esta nova fase.

Destaco, antes, uma ótima novidade. A partir desta nova fase, finalmente a Panini vai abandonar o péssimo papel Pisa Brite e vai adotar o (muito) melhor LWC. Essa vai ser uma enorme evolução para apreciação das artes. Ainda não se iguala ao padrão das edições originais americanas, mas fica mais perto. A editora fez primeiro um teste com a revista do Homem Aranha e depois publicou tudo das Guerras com esse material. Pelo jeito agradou e torçamos para que não voltem atrás.

Agrupei os títulos por Mensais e Encadernados. Confiram onde sairão cada título americano em cada revista brasileira. Adianto que, se tudo correr conforme os planos, nunca antes na história de nosso país tivemos tantos títulos da Marvel!

Mensais com 2 histórias principais – (variando entre 52 e 68 páginas, de R$ 7,20 a R$ 8,70).

1. Homem de Ferro – a edição #1 contém as duas primeiras histórias do título Invincible Iron Man, que saíram em outubro de 2015 nos EUA (a Marvel tem, já há alguns anos, publicado duas edições por mês de alguns personagens). Texto de Brian Bendis e arte do ótimo David Marquez. Certamente esta revista também conterá em breve o título International Iron Man, ou seja, será a primeira vez na Era Panini que teremos uma revista inteiramente dedicada ao HdF.

2. Deadpool – outro título que retorna estrelado por um personagem no auge da popularidade. A edição #1 traz as duas primeiras histórias do título americano Deadpool, de novembro de 2015, de Gerry Duggan e Mike Hawthorne. Em breve, outro título americano regular com o personagem, Deadpool & The Mercs for Money deve compor o mix de uma nova revista mensal no Brasil: Homem Aranha e Deadpool, que também trará, claro, as histórias de Spider Man & Deadpool, que faz muito sucesso nos EUA. A Panini até mesmo já anunciou uma terceira revista regular com o Mercenário Tagarela, chamada Deadpool Extra, para abrigar – acredito – títulos como Gwenpool e minisséries, como Deadpool & Gambit.

3. O Velho Logan – a única revista que começou nas Guerras Secretas e que continuará sem zerar sua numeração nesta nova fase. A edição #5 traz a estréia da X-23 como a nova Wolverine, do título All-New Wolverine #1 (novembro de 2015), de Tom Taylor e David Lopez e a primeira história do agora título mensal Old Man Logan (janeiro de 2016), escrito por Jeff Lemire e desenhado por Andrea Sorrentino – o mesmo artista que trabalhou com o personagem durante as Guerras Secretas. Sem grandes surpresas neste mix, por enquanto.

4. Doutor Estranho – o Mago Supremo estrela sua própria revista mensal pela primeira vez no Brasil. A edição #1 traz as primeiras duas histórias de Doctor Strange (outubro e novembro de 2015), escritas pelo superstar Jason Aaron e desenhadas pelo veterano Chris Bachallo. Não parece que a Panini irá acrescentar outros personagens místicos nesta revista (Feiticeira Escarlate?), pelo menos nos primeiros três números, mas no futuro certamente o título Doctor Strange and the Sorceres Supremes – que contará com uma maga brasileira – deve aparecer aqui. Tomara que a revista vingue!

Mensais com 3 histórias principais – (variando entre 76 e 84 páginas, de R$ 9,40 a R$ 9,60).

5. O Espetacular Homem-Aranha – este título terá 3 histórias principais, concentrando os dois Homens-Aranhas ativos do Universo Marvel pós-GS: Peter Parker e Miles Morales. Na edição #1 temos a primeira aventura do jovem Morales do título Spider-Man por Brian Bendis e Sara Pichelli (de fevereiro/2016) e a primeira do título Amazing Spider-Man de Dan Slott e Giuseppe Camuncoli (outubro/2015), além de histórias curtas e capas alternativas. Acredito que não teremos surpresas com este mix pelos próximos anos, já que todas as revistas de personagens da “família do Aranha” – como Spider Woman e Carnage – continuarão saindo na Aranhaverso, ou em especiais.

6. Vingadores – seu mix será composto pelos 3 títulos principais de equipes, mas na edição #1 temos apenas a estréia de duas delas: a primeira história dos Novos Vingadores (New Avengers, de outubro de 2015), a equipe liderada pelo brasileiro e ex-Novo Mutante/X-Force Roberto da Costa. Escrita pelo competente Al Ewing e ilustrada pelo cartunesco Gerardo Sandoval; e a primeira dos Novíssimos e Diferentes Vingadores (All-New All-Different Avengers 1 de novembro de 2015), que é a equipe central, composta pelos veteranos Homem de Ferro, Thor, Visão e Capitão América, acrescida pelos jovens Nova, Ms. Marvel e Homem-Aranha (Morales). Este título é escrito por Mark Waid e tem arte de Adam Kubert. A Panini incluiu, para completar esta edição, histórias curtas dos one-shots Avengers Zero e Free Comic Book Day 2016. A terceira equipe, Fabulosos Vingadores (Uncanny Avengers) aparecerá na edição #2.

7. Guardiões da Galáxia – a edição #1 traz as estreias de três títulos: Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy lançada em outubro de 2015), escrita pelo Brian Bendis e desenhada por Valerio Schiti, com a equipe renovada, que inclui o Coisa; a primeira revista-solo do Drax (Drax de novembro/2015) de CM Punk e Cullen Bunn, desenhos de Scott Hepburne, que não durou muito tempo lá fora; e Rocky Racum e Groot (Rocket Raccoon and Groot, janeiro/2016), unindo as revistas-solo do Guaxinim Espacial e da Árvore Lutadora de antes das Guerras, é escrita por Skottie Young e desenhada pelo brasileiro Filipe Andrade. Completa a edição uma HQ curta de All New All Diffente Marvel Point One também focada nessa dupla de Guardiões. Em breve a Panini deve incluir o material do título mensal do Senhor das Estrelas.

Mensais com 5 ou 6 histórias principais – (variando entre 148 e 156 páginas, de R$ 18,20 a R$ 18,60).

8. Avante Vingadores – na edição #1 temos cinco estreias, sendo que nenhuma é formada exatamente por “Vingadores” – há vários ex, no entanto. A Panini já lançou revistas assim antes, então sem grandes novidades, só fica o aviso. O ótimo Esquadrão Supremo de James Robinson e Leonard Kirk (Squadron Supreme, de novembro/2015) ganhou o destaque na capa de Alex Ross e será uma equipe adversária dos Vingadores. Capitã Marvel (Captain Marvel de janeiro/2016) , em mais um reinício para Carol Danvers, agora comandando a Tropa Alfa em uma estação espacial (!?!), escrita por Michele Fazekas e Tara Butters e desenhada pelo elegante Kris Anka. O Incrivelmente Sensacional Hulk (Totally Awesome Hulk de dezembro de 2015), do veterano em heróis gama Greg Pak e ilustrado por Frank Cho, apresenta um novo alter ego para o Hulk. Apesar do nome, os Supremos (The Ultimates, novembro/2015) de Al Ewing e Kenneth Rocafort são uma equipe nova, à parte dos Vingadores, e que também não traz nenhuma ligação com o título famoso do Universo Ultimate. Finalmente, Força-V (A-Force, dezembro de 2015), outra equipe independente, formada somente por mulheres que apareceu no Mundo Bélico e agora continuará no novo Universo Marvel, produzida pela mesma dupla criativa, G. Willow Wilson nos roteiros e ilustrada por Jorge Molina. Já foi anunciado que em breve o Homem-Formiga entrará neste mix – outro herói que não é um Vingador ativo no momento.

9. Universo Marvel – esta revista conterá aventuras cósmicas, de realidades alternativas e outras do gênero. A edição #1 traz três histórias do Torneio dos Campeões (mas somente uma principal do título Contest of the Champions de outubro/2015), de Al Ewing e Paco Medina, retomando o conceito central da primeira minissérie da editora, de 1982. Guardiões do Infinito (Guardians of Infinity, de dezembro/2015), escrito por um dos renovadores do universo cósmico da Marvel, Dan Abnett e desenhada por Carlo Barberi tem as duas primeiras histórias publicadas aqui. Venon o Cavaleiro Espacial (Venon Space Knight novembro/2015) de Robbie Thompson e belissimamente ilustrada pelo argentino Ariel Olivetti, traz o Agente Venon em uma nova missão. Sam Alexander, agora com seu pai, volta como o Nova (Nova de novembro/2015), de Sean Ryan e Cory Smith. Finalmente, Fabulosos Inumanos (Uncanny Inhumans outubro/2015) o principal título desta grande família nesta fase, escrito novamente por Charles Soule e com arte do superstar Steve McNiven.

Outros títulos já anunciados, mas ainda não lançados:

Revistas Mensais:
10. Capitão América – no começo só com as histórias do Sam Wilson
11. X-Men – esta sim já confirmada com os títulos das 3 equipes pós-Guerras: Extraordinary, All-New e Uncanny
12. Thor – provavelmente com duas HQs da nova Thor
13. Deadpool Extra – provavelmente com duas ou três HQs por edição, com as várias minisséries e Gwenpool
14. Homem-Aranha e Deadpool – provavelmente com duas HQs por edição, uma de Spider-Man & Deadpool e outra de Mercs for Money
15. Aranhaverso – deve manter o formato de 5 a 6 HQs, com Mulher-Aranha, Spider Gwen, Teia de Seda, Guerreiros da Teia, Spidey, Carnificina, Homem Aranha 2099 e especiais

Encadernados Regulares:
Demolidor – continuará a numeração da fase anterior do Mark Waid, agora por Charles Soule e Ron Garney
Ms. Marvel –  provavelmente continuará a numeração anterior, ainda com G Willow Wilson no texto
Viúva Negra – com a nova e excelente fase de Mark Waid e Chris Samnee
Justiceiro – de Becky Cloonan e Steve Dillon
Cavaleiro da Lua – de Jeff Lemire e Greg Smallwood
Pantera Negra – do premiadíssimo escritor Ta-Nehisi Coates e desenhada por Brian Stelfreeze
Visão – elogiadíssima por 10 em 10 resenhistas, de Tom King e Gerardo Walta
Gavião Arqueiro (a confirmar) – de Jeff Lemire e Ramon Perez

Títulos americanos ainda sem uma “casa” no Brasil: 

Os seguintes títulos ainda não foram anunciados pela Panini, e há poucos rumores se – e como – sairão no Brasil. A maioria já foi cancelada nos EUA então a chance de publicação é baixa, com exceção, claro, dos mais conhecidos ou produzidos por autores renomados. Nesse primeiro grupo podemos incluir:

Capitão América Steve Rogers (na fase “Hidra”). Karnak . Vote Loki . Totalmente Novos Inumanos . Luke Cage e Punho de Ferro . X-Men ’92 . Feiticeira Escarlate . Thunderbolts

Este outro grupo de títulos americanos tem personagens com baixa popularidade e vários já foram cancelados e, portanto, a maioria não deve ser publicado pela Panini:

Garota-Esquilo . Patsy Walker (Felina) . Angela . Cavaleiro Negro . Weirdworld . Comando Selvagem da SHIELD . Illuminati . Lobo Vermelho . Howard o Pato . Estigma e Máscara Noturna . Harpia . Hércules . Agentes da SHIELD . Hyperion . Falcão Noturno . Garota da Lua e Dinossauro Demônio

Nota: todas essas revistas citadas compreendem à Fase All-New All-Different, que começou no final de Guerras Secretas e terminou no mini-evento dos Vingadores Standoff; ou seja, antes do megaevento Guerra Civil II.

Resenha de Guerras Secretas Vingadores #2 – Panini Comics

guerras-secretas-os-vingadores-2-669x1024

Para a segunda edição de histórias das Guerras Secretas dedicadas aos Vingadores, a Panini escolheu a badalada minissérie Força-V (A-Force, no original), publicada em 5 capítulos em 2015 nos EUA.

. Volume de Spoilers: Moderado.

Ao contrário da maioria das interligações – que abordam variações de realidades já exploradas em algum momento na longa história da Marvel – Força-V é um conceito inédito, que reúne dezenas de heroínas em suas versões mais clássicas e até apresenta uma nova e intrigante personagem.

A HQ é escrita por duas roteiristas, Marguerite Bennett (de Bombshells, da DC) e G. Willow Wilson (premiadíssima pela sua criação, Kamala Khan, a nova Miss Marvel) e desenhada pelo mexicano Jorge Molina, que vem produzindo vários trabalhos na editora nos últimos anos, principalmente como capista.

Toda a ação se desenrola em um Domínio chamado Arcádia, uma ilha cheia de vida, com uma sociedade moderna, urbana, similar ao de uma metrópole americana, e aparentemente pacífica. A Baronesa Jennifer Walters, mais conhecida como Mulher-Hulk, é também a líder da Força-V, nada mais nada menos do que uma superequipe composta apenas por heroínas.

Um aspecto que chama a atenção dos leitores mais antigos da Marvel é que neste grupo há uma reunião de personagens que poucas vezes teve a oportunidade de interagir no passado. Por exemplo, duas conselheiras de Jennifer são a Mulher-Aranha (de quem nunca foi muito próxima), e a Medusa dos Inumanos (cujos caminhos raramente se cruzaram). Completa o núcleo principal a Capitã Marvel (em uniforme atual), a mutante Cristal (com o visual disco original dos anos 70), a bruxinha Nico Minoru, dos Fugitivos (que contracenou com pouquíssimos personagens desde sua criação, em 2003), a cada vez mais popular Miss America Chávez (dos Jovens Vingadores) e Loki, em sua versão Deusa do Mal (da fase do Thor de J. M. Straczynski).

Além da equipe, contudo, Arcádia está repleta de outras heroínas – como a bela capa de Jim Cheung sugere – que fazem pequenas aparições ao longo da revista. Embora não façam nenhum discurso abertamente feminista, as autoras também não explicam porque este Domínio é liderado pelas mulheres. Simplesmente parece que “aqui as coisas são assim”. A sociedade da ilha é heterogênea e até alguns heróis (homens) pipocam aqui e ali, mas o roteiro se concentra em contar os dramas vividos pelas personagens principais após uma de suas integrantes cometer uma violação das leis do Deus Destino.

Esse ato – que, honestamente, foi um pouco “forçado demais” – traz a interferência do Doutor Estranho, o braço direito de Destino em Guerras Secretas, e insere alguns membros da Tropa Thor como antagonistas da Força-V.

É neste contexto que surge Singularidade, uma rara criação totalmente original (nos dias atuais) da Marvel. Sem revelar detalhes, ela é aquela figura escura com brilhos “cósmicos” que aparece na capa, e vai desempenhar um papel crucial na HQ.

Jorge Molina faz uma boa arte na série, combinando perfeitamente com o tom leve e até juvenil da história. Seu estilo, limpo, dinâmico e sem grandes ousadias, às vezes lembra Olivier Coipel e Stuart Immonen, mas ele definitivamente está conseguindo atingir uma identidade própria e tem em Força-V um de seus melhores trabalhos, especialmente nas batalhas e no desenvolvimento de Singularidade que, acredito, deve se tornar uma figura constante na Marvel.

No geral, esta é uma história singela, sem grandes pretensões além de entreter, mas é bem contada e vale a pena conhecer pelo ineditismo da proposta, pelas interações entre as personagens e pelo surgimento de Singularidade. Senti falta de algumas explicações, ou pelo menos de pistas, para compreender melhor o Domínio de Arcádia como, por exemplo, em que circunstâncias a Mulher-Hulk tornou-se Baronesa, se os homens daqui de algum modo se sentem oprimidos pela Força-V, porque em meio a dúzias de heroínas, as vilãs asgardianas Loki e Encantor estão do “lado dos anjos” e assim por diante.

Minhas maiores críticas, no entanto, ficam para a óbvia revelação da traidora (acertei sem pensar duas vezes) e, sobretudo, para a ameaça final reservada para nossas heroínas. É um desafio razoável sim e é uma solução interessante como interligação ao resto do Mundo Bélico, mas com a presença de figuras superpoderosas como Jean Grey (na versão Fênix) e Mônica Rambeau (Fóton/Pulsar/Spectrum), além de muitos Thors, talvez não deveria dar o trabalho que deu. Aliás, ao longo de toda a revista o uso dos poderes das heroínas no geral é algo bastante questionável. Talvez os editores precisassem intervir um pouco mais, ou talvez estas versões tenham outros níveis de poderes? Enfim, para uma revista baseada em super heróis clássicos da Marvel, incomoda um pouco.

Sabe-se que a editora vai retomar o conceito de Força-V no pós Guerras Secretas. Vamos aguardar para conferir como a equipe será composta e em quais circunstâncias. Pelo que vimos da proposta e de sua primeira aventura, é um título com muito potencial.

Nota 7,0.

Resenha de Guerras Secretas Vingadores #1 – Panini Comics

capa-guerra-das-armaduras

Conforme lemos mais e mais edições interligadas (tie-ins) à mega saga Guerras Secretas, organizadas pela Panini em edições únicas, mais concluímos que essa foi uma decisão acertada. A maior parte destas minisséries, que a Marvel publicou em 2015 nos EUA e que agora estão saindo no Brasil, são histórias fechadas e, portanto, funcionam muito melhor em uma leitura só, sem as interrupções que normalmente teríamos se saísse uma parte por mês, como de praxe.

. Volume de Spoilers: poucos, mínimos… mesmo!

Guerras Secretas Os Vingadores #1 traz, na capa, o nome da aventura, “A Guerra das Armaduras” e concentra uma história completa estrelada pelo Homem de Ferro. Claro que, na nova realidade criada pelo Deus Destino em Guerras Secretas, este não é o Tony Stark tradicional. Aqui, nesta versão, ele é um Barão – como são chamados os chefes de cada Domínio do Mundo Bélico.

Assim como em Guerras Secretas Homem-Aranha #1, o leitor pode comprar somente esta revista e ter uma história com começo, meio e fim bem desenvolvida, com pouca referência e quase nenhuma conexão com o resto da saga. Na ocasião do lançamento de Secret Wars, lembro que os editores americanos citaram que essa seria uma tática desejada e, pelo jeito, cumpriram a promessa. A contrapartida desta decisão é que, se você não gosta muito deste personagem, ou prefere ler somente as histórias mais relevantes das Guerras Secretas, pode muito bem pular esta revista.

O Domínio do Barão Homem de Ferro é chamado “Tecnópolis”, e todos seus habitantes usam armaduras. A razão para essa circunstância é o mote desta história, escrita pelo grande James Robinson e desenhada por um jovem brasileiro, o surpreendente Márcio Tanaka.

Robinson, um autor premiadíssimo nos anos 90 (sobretudo por Starman da DC), mas que passou por uma longa fase de projetos questionáveis nos anos 2000, está cada vez mais à vontade na Marvel, produzindo alguns materiais excelentes, como os recentes Esquadrão Supremo e a revista solo da Feiticeira Escarlate (em breve no Brasil).

Sua abordagem para o “tema” Guerras das Armaduras não se assemelha em nada à famosa saga clássica do personagem, que saiu aqui primeiro pela Editora Abril na década de 1980, na revista Heróis da TV, e recentemente em um encadernado. Dos vilões aos aliados, do cenário ao desfecho, esta nova aventura é completamente independente do seu título de origem. A única coisa em comum, como já comentado, é que há muita gente (mesmo!) usando a tecnologia do Homem de Ferro no Mundo Bélico, nem sempre para fins pacíficos. Como era de se esperar, aparecem muitos outros personagens normalmente associados ao vingador, mas também algumas surpresas.

Sinceramente, não conhecia o trabalho de Márcio Tanaka, mas gostei bastante de seu traço, sua composição moderna, estilo “cinema”, muito fluida e bem distribuída. Às vezes suas páginas ficam bem escuras, mas me parece mais uma escolha calculada – em parceria com a colorista Esther Sanz – para criar um clima sombrio, árido, pertinente à Tecnópolis, uma metrópole fria e futurista, com toques da Los Angeles de Blade Runner. É sempre bacana descobrir novos artistas cuja arte aprendemos a apreciar, e pretendo seguir o trabalho de Tanaka daqui em diante (ele está atualmente em All-New Wolverine nos EUA).

Esta HQ é mais uma boa interpretação de personagens clássicos (e alguns novos) em uma nova realidade alternativa a partir de um tema muito próprio ao Homem de Ferro, e tem muita ação, várias batalhas, um mistério intrigante, reviravoltas e alguns clichês. A maior ressalva é que, apesar do nome escolhido pela Panini, não há “Vingadores” aqui.

Nota 7,5.

Resenha de Guerras Secretas #1 – Panini Comics

Guerras Secretas 1 - CAPA NORMAL

Guerras Secretas é, provavelmente, a mais ambiciosa megasaga Marvel de todos os tempos. Além do tema da história – que lida com o fim do Multiverso e os dramas vividos pelos sobreviventes no único planeta restante, o grande contingente de personagens envolvidos e a miríade de histórias interconectadas, foi também a partir de Guerras Secretas que a editora, pela primeira vez em seus 76 anos de existência, zerou todos os seus títulos mensais para promover um relançamento pleno, em um Universo Marvel também renovado.

. Volume de Spoilers: poucos, só para contextualizar o início da saga.

É importante ressaltar que, a despeito do que chegou a ser publicado em alguns sites nacionais, como o Universo HQ, a Marvel não promoveu um reboot. Foi sim um reinício, mas sem apagar a cronologia anterior – prática adotada algumas vezes pela DC. Portanto, tudo o que aconteceu até antes deste evento continuou “valendo”, salvo uma ou outra exceção que a própria saga permitiu proporcionar, já que lida com poderes divinos, recriação universal, realidades paralelas, etc.

Por falar em DC, é público e notório que o autor e arquiteto da obra, Jonathan Hickman, procurou homenageá-la, ou pelo menos prestar reverência à sua emblemática primeira megasaga, Crise nas Infinitas Terras, de 1985, sem esquecer, claro, de resgatar temas e elementos-chave da primeira e cultuada Guerras Secretas da Marvel, de 1984 (cujo nome completo original era, na verdade, Marvel Super-Heroes Secret Wars).

Os infinitos universos se desintegrando – quem leu sabe exatamente que é assim que a Crise começa – são o pano de fundo das histórias que o próprio Hickman desenvolveu nos últimos anos no título Novos Vingadores, em que ele coloca os Illuminati (Pantera Negra, Senhor Fantástico, Homem de Ferro, Namor, Fera, Raio Negro e Doutor Estranho), em uma constante tensão e em um cruel dilema moral a cada novo “Evento de Incursão”, que ocasionava a destruição de Terras Paralelas. Nessa série foram apresentados ainda alguns novos personagens presentes nesta HQ, como a vilã Cisne Negro, além de velhos favoritos em novas personas e, claro, o resgate do onipotente Beyonder, o artífice das Guerras de 1984.

Portanto, quem leu Novos Vingadores vai estar mais familiarizado com alguns aspectos da história. Quem acompanhava o Universo Ultimate, também. E os leitores da velha guarda que conhecem bem Crise das Infinitas Terras e a primeira Guerras Secretas, certamente aproveitarão ainda mais, pois é assim a natureza dos universos de heróis, não é mesmo? Quem tem uma maior quilometragem consegue absorver, comparar, relembrar, questionar determinados pontos das novas histórias, que estão sempre citando referências de HQs prévias.

Mas se você não leu, também não deve ter grandes problemas para compreender esta primeira edição. A Panini acertadamente acrescentou logo no começo uma pequena história de 10 páginas da Fundação Futuro, originalmente distribuída pela Marvel no evento comercial Free Comic-Book Day de 2015, que serve como uma boa introdução para a saga.

Assim, quando Guerras Secretas #1 realmente se inicia, o leitor que não acompanha regularmente a Marvel já tem uma boa ideia do que está acontecendo (e um milhão de perguntas também). É importante ter paciência quando há muitos personagens em cena; ou melhor, quando se lê uma saga gigantesca deste tipo.

O texto de Hickman é grandiloquente, apropriado para a história, e o principal protagonista, Doutor Destino, é o primeiro a aparecer, bem ao lado de um outro famoso Doutor, o Estranho, e o poderosíssimo (e relativamente obscuro) Homem-Molecular. Corte para o último “Evento de Incursão” – o choque eminente entre as Terras do Universo Marvel principal e o Universo Ultimate –, que é o fato mais relevante nesta edição, em que vemos detalhes da frenética tentativa dos heróis de ambas as Terras eliminarem suas contrapartes, com direito a um ataque total da SHIELD e do malévolo Reed Richards Ultimate contra dezenas de Vingadores e X-Men. Muita ação e destruição garantidos.

A Cabala, supergrupo de vilões comandado por Thanos, o Quarteto Fantástico e alguns aliados são os demais participantes desta primeira parte que é, basicamente, uma preparação para o verdadeiro cerne da história: a onipotência do Doutor Destino e a complexa vida na colcha de retalhos do Mundo Bélico. Vale ressaltar, contudo, que até o final desta edição esses acontecimentos ainda não se concretizaram. Porém, antes que eu seja acusado de spoilers, na mesma semana que Guerras Secretas #1 chegou nas bancas, também estava lá Guerras Secretas X-Men #1 – A Era do Apocalipse, que já trata desse novo status quo.

Aliás, nesta revista principal mesmo, há um anúncio na quarta capa com o texto “A Terra como a conhecemos não existe mais. Tudo o que resta agora é o Mundo Bélico, composto por fragmentos de mundos arrasados!” Ou seja, a própria Panini já conta um pouco do que acontecerá na edição #2.

Em termos de arte, há pouco a dizer: Esad Ribic no lápis e Ive Svorcina nas cores fazem um trabalho estupendo, como de costume, o que aumenta e muito a qualidade da obra. Cores frias nas ambientações internas e quentes nas batalhas, heróis facilmente identificáveis – até mesmo as contrapartes das duas Terras, e um enquadramento fluido e competente devem proporcionar lindas edições encadernadas futuras. A capa de Alex Ross (há opção de capa variante do Simone Bianchi), já clássica, é também uma bela homenagem à Crise da DC, com as duas terras se colidindo ao fundo e diversos heróis flutuando no espaço.

Guerras Secretas é, sim, em grande medida, a Crise nas Infinitas Terras da Marvel. Claro que a história a partir deste ponto vai caminhar para um roteiro muito diferente. Vale dizer, ainda, que o argumento central da obra – a impossibilidade de lidar com a onipotência – está presente em diversas obras da editora (Desafio Infinito e a Saga de Korvac, por exemplo) mas nunca foi levada às últimas consequências como agora, incluindo o seu limite: a recriação do Universo Marvel. Sabemos que tudo vai continuar em alguns meses mas, como dizem, o que vale é a jornada certo? Vamos acompanhar todas as edições e ver como Doutor Destino, os heróis e vilões remanescentes das duas Terras e os incontáveis outros personagens do Mundo Bélico lidarão com o Fim dos Tempos.

Nota: 8,00.