Os Guardiões da Galáxia e sua Primeira Aparição nos Quadrinhos

Neste artigo, acompanhe nossa análise da primeira HQ que apresentou os Guardiões da Galáxia e descubra como a equipe, seu conceito e origens eram completamente diferentes daquelas que o grande público conhece hoje.

O Quarteto Original dos Guardiões, diretamente do futuro: Vance Astro, Charlie-27, Martinex e Yondu

O Quarteto Original: Vance Astro, Charlie-27, Martinex e Yondu.

Primeira Aparição da Equipe: Marvel Super-Heroes #18 (janeiro de 1969), que foi também a estreia de todos esses personagens no Universo Marvel.
Criadores: Arnold Drake (roteiro) e Gene Colan (arte).
Editor: Stan Lee.
Título: Earth Shall Overcome!
Capa: Gene Colan.

Equipe e Poderes:
1. Major Vance Astrovik – americano do século XX que viajou durante 1.000 anos até o sistema solar Alfa Centauro, tem poderes telecinéticos e treinamento militar.
2. Capitão Charlie-27 – aparentemente o último jupiteriano livre, uma subespécie humana artificialmente desenvolvida para viver em Júpiter, tem pele ultra-densa, superforça e resistência, é piloto e com vasto treinamento militar.
3. Martinex T’Naga
– aparentemente o último plutoniano livre, uma subespécie humana artificialmente desenvolvida para viver em Plutão, tem pele cristalina, dispara rajadas de calor e gelo e é cientista nível gênio.
4. Yondu Udonta – aparentemente o último sobrevivente da espécie alienígena dos Centaurianos, é um guerreiro de aspecto tribal, arqueiro mestre das flechas Yaka, que controla por assobios.

Página interna com os Guardiões em ação

Adversários iniciais: a Irmandade dos Badoon (Brotherhood of the Badoon), espécie alienígena reptiliana que, no século XXXI, empreendeu um vasto ataque ao Sistema Solar e a Alfa Centauro, dominando a Terra e suas colônias em Plutão, Netuno, Marte e também o planeta natal dos Centaurianos. No momento em que saiu esta revista, os Badoon tinham recentemente aparecido pela primeira vez na revista Silver Surfer #2 (criados por Stan Lee e John Buscema), em outubro de 1968, apenas 3 meses antes! Eles são, desta forma, o elo com o restante do Universo Marvel.

Drang, o Comandante Supremo do Setor Leste do Império Badoon

Aventura futurista Sci-Fi: a história de Arnold Drake tinha, além dos atos heroicos e do esperado clima de aventura, um belo verniz de ficção-científica. O autor lançou, nas 22 páginas desta HQ situada no longínquo século XXXI, um conjunto impressionante de conceitos. Politicamente, todas as nações da Terra estão unidas sob a bandeira das U.L.E. (United Lands of Earth), que permitiu o desenvolvimento de esforços e tecnologia para colonizar dúzias de outros planetas, conhecidos como U.L.E. Federation. Os cientistas terrestres desenvolveram raças geneticamente modificadas para suas colônias planetárias, um sistema de teleporte para conectar os diversos mundos habitados (o Tele-Tran) e uma tecnologia revolucionária de transporte espacial baseada nas Harkovian Physics, um conjunto de teorias que substituíram as Einsteinian Physics. Outras inovações são a roupa de contenção de Vance Astro, responsável por manter sua integridade física (seu corpo tem 1.000 anos e foi congelado nesse tempo); animais desenvolvidos para guerra, como o Saturnian Hound-Hawk (misto de Lobo e Gavião); o dispositivo Psyke-Disk que os Badoon usam para controlar mentalmente as populações terrestres, tornando-os escravos quase autômatos; o mineral Yaka de Alfa Centauro que é “sensível ao som”, e outros incríveis conceitos.

Os Badoon à caça, com um Saturnian Hound-Hawk

Vance Astro e a Ironia Suprema. Um dos aspectos mais originais desta história é, sem dúvida, a dramática situação de Vance Astro. Antes de comentar sobre isso, vale ressaltar que o autor o caracteriza com 2 situações únicas, que o distinguem totalmente de seus companheiros: é o único terráqueo e veio do século XX, ou seja, 1.000 anos atrás (ele é, portanto, um herói “fora do seu tempo”, como o Capitão América naquela década, mas de uma maneira muito mais radical). Uma terceira característica, que aqui na edição original Drake apenas deixa em aberto, e que foi acrescentada por outros escritores, é que ele era mutante. Mas, voltando à sua origem, vale lembrar que o herói não passou por um deslocamento temporal. Vance foi selecionado pelo governo americano para ser o único astronauta em uma missão com destino ao sistema solar vizinho, Alfa Centauro. O problema é que a limitada tecnologia “da época” (do ano de 1988, lembrando que a revista foi escrita em 1968) gerava uma velocidade máxima ainda muito lenta, portanto o tempo da viagem seria de 1.000 anos. Vance foi colocado sob animação suspensa (outra situação similar à do Capitão) e despachado em um foguete. Contudo, nesse meio tempo os humanos desenvolveram uma tecnologia ultra veloz para viagens espaciais, o que permitiu colonizar outros planetas, inclusive de Alfa Centauro. Assim, quando o astronauta finalmente chegou a seu destino e foi descongelado, ao invés de ser um desbravador, uma multidão de terráqueos o aguardava! Ou seja, sua missão, seu sacrifício, foram completamente inúteis!

A história dramática do astronauta mutante Vance

Heróis da Liberdade. A história inicial dos Guardiões pode ser vista também como um grito em defesa da Liberdade. Os reptilianos Badoon são um império opressor que mata, prende e tortura. Charlie-27 estava em missão interplanetária quando ocorreu o ataque e descobre que é o último jupiteriano livre; a mesma situação é de Martinex, que diz que seus compatriotas plutonianos foram retirados em uma evacuação em massa algumas semanas antes. Yondu e Vance estão sob tortura, mas conseguem escapar e, depois de conhecerem a outra dupla (com direito a uma luta entre eles antes de se unirem), decidem que devem organizar uma resistência e combater os invasores até libertar a Terra e suas colônias.

No último quadro da sua revista de estreia, os Guardiões entoam um grito de liberdade!

Preço da Revista com a Primeira Aparição: sendo um título não muito popular da Era de Prata dos quadrinhos, é até relativamente fácil encontrar uma edição no mercado americano, mas com qualidade de conservação média ou baixa. Gradações elevadas são raras, como a nota 8,5 CGC da imagem abaixo. Exemplares em perfeito estado, de nota 9,8 a 10,00 podem atingir até US$ 6.000,00.

Edição CGC 8.5 à venda em site europeu a mais de 300 euros

 

Resenha de Guerras Secretas Guardiões da Galáxia #3 – Panini Comics

A capa faz uma homenagem à saga original, mas com os Guardiões como protagonistas

Quando a Saga de Korvac original foi publicada, ainda não era comum para a Marvel ou para a DC desenvolverem grandes eventos no modelo de crossover, isto é, com uma história principal e diversas outras interligadas, envolvendo múltiplos títulos de vários personagens.

Pelo contrário, a história idealizada por Jim Shooter com uma pegada cósmica foi criada para a revista mensal dos Vingadores no final dos anos 1970 (Avengers Vol.1 #167-168 e 170-177). Na época, a superequipe não era tão popular e só tinha uma revista. Portanto, esta era para ser uma história “comum”, um team-up com os Guardiões da Galáxia originais (aqueles do século XXX), mas conforme os meses avançavam e, graças ao seu final inesperadamente chocante, entrou para o rol de maiores histórias dos Vingadores de todos os tempos. Inclusive figura na minha lista de maiores clássicos da Marvel.

. Volume de Spoilers: moderados, mas sem entregar os principais momentos.

Para esta nova abordagem, uma interessante releitura da original, os protagonistas são os mesmos Guardiões da Galáxia do futuro, acrescidos apenas de Geena Drake, uma nova personagem criada poucos meses antes das Guerras Secretas, enquanto uma equipe alternativa de Vingadores são os coadjuvantes. Alternativa, porque nunca vimos essa formação: Hércules, Serpente da Lua, Pantera Negra, Visão, Viúva Negra, Jaqueta Amarela e Jocasta, liderados pelo Capitão Mar-vell. Todos em sua gloriosa e icônica versão da década de 70.

A equipe dos Guardiões cuida da segurança do Domínio de Forest Hills, cujo Barão é… Michael Korvac. Já os Vingadores patrulham o Domínio vizinho, Holly Wood, onde o Barão é, curiosamente, Simon Williams. Talvez este seja um easter egg, porque Williams, mais conhecido no Brasil pelo codinome Magnum, teve uma carreira paralela como ator de cinema – nunca bem sucedida -, e agora ele “domina” Hollywood.

A história começa com a tentativa de um acordo entre os dois Domínios, cujos Barões estão aparentemente dispostos a esquecer certas diferenças do passado e trabalharem em conjunto, inclusive com as duas superequipes cooperando na segurança. Nesse meio tempo, os Guardiões estão investigando um mistério envolvendo cidadãos comuns que são acometidos por uma “loucura” envolvendo estrelas e um universo anterior… para então se transformarem em criaturas superpoderosas.

O roteirista é o veterano Dan Abnett, especialista em aventuras cósmicas e principal responsável pelas últimas séries do grupo, tanto as da equipe futurista quanto a do presente. Dividida em 4 partes, o autor cria uma história instigante, com todos os elementos principais da aventura original, mas ao mesmo tempo com muita criatividade e dando mais espaço para Michael Korvac e sua amada, Carina. Acredito que leitores novos, ou que desconheçam a história original, deverão gostar das reviravoltas e das batalhas épicas. Mas, para os leitores veteranos há um pequeno deleite extra: ter uma nova chance de ver estes Vingadores interagindo com estes Guardiões, porque são todos personagens em suas versões clássicas. Serpente da Lua fazendo um mapeamento mental, Capitão Mar-vell em ação, Águia Estelar misterioso… enfim, há pequenos momentos assim que são presentes para os fãs. Além disso, os costumes, cenários e roupas sugerem que a trama se passa mesmo no final dos anos 70.

A história está fortemente inserida no ambiente das Guerras Secretas, e o roteirista explora inteligentemente isso. Destino e os Thors são uma sombra constante e influenciam as decisões dos personagens, e a forma como Abnett envolve a consciência cósmica de Korvac com a saga principal é exatamente aquela que um leitor exigente poderia esperar. O final – tão contundente quanto a história clássica, é muito bem amarrado e, novamente, rende uma bela homenagem à saga original e aos próprios Guardiões.

Os Guardiões no traço cartoon de Schmidt

A arte ficou por conta de Otto Schmidt, que tem um estilo cartunesco, que não é o meu favorito, mas certamente ele é muito competente na quadrinização, nas versões de todos os clássicos heróis e na fluidez narrativa. Mas, talvez, sofra uma certa inconsistência ao longo da minissérie. Contudo, é opção estilística do artista e, como leitores, podemos apreciar sua arte ou não. Embora para uma história com escopo grandioso, cósmico e dramático como este eu preferiria outros estilos, tal opção soaria cômoda e familiar, algo que já teria visto antes (inúmeras vezes, na verdade). No final das contas, é bom experimentar algo diferente do lugar-comum. Parece desenho animado moderno, e as cores da brasileira Cris Peter estão muito boas e atraentes.

Este tie-in foi uma opção da Marvel e dos autores inversa daquela do Desafio Infinito, que saiu na edição #2 dos Guardiões da Galáxia das Guerras (resenha aqui): enquanto aquela procurou um caminho intimista e distante da saga original, nesta todos os aspectos principais e grandiosos foram abraçados e retrabalhados. Uma boa aventura cósmica, totalmente integrada na realidade das Guerras Secretas, e ainda homenageando a trama original e seus personagens centrais.

Completa a edição uma pequena história do Surfista Prateado, ou melhor, de uma versão dele, escrita e desenhada por James Stokoe. É uma arte deslumbrante, daquelas que a gente quer ver mais vezes. Um ótimo encerramento para a edição da Panini.

A impressionante arte de Stokoe

Nota: 9,0

Resenha de Guerras Secretas Guardiões da Galáxia #1 – Panini Comics

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Brian Bendis dedica-se às histórias dos Guardiões da Galáxia desde que a equipe retornou na configuração “universo cinemático”, em 2013, e pelo jeito não quis abrir mão de imaginá-los dentro da nova realidade de Guerras Secretas.

.Volume de Spoilers: poucos.

Publicada nos EUA em quatro números, a minissérie intitulada Guardiões de Luganenhum está completa nesta edição da Panini. Como parceiro, temos Mike Deodato Jr., que já trabalhou diversas vezes com Bendis, sendo talvez a série dos Vingadores Sombrios o ponto alto criativo da dupla até o momento.

Não é uma história muito complexa – o padrão, aliás, de toda a fase de Bendis nos Guardiões –, mas há algumas situações interessantes, como o comentário sobre um Celestial ter confrontado o Deus Destino “anos atrás”, a confirmação de que existem ainda diversas raças alienígenas vivendo ao redor do Mundo Bélico (talvez em satélites?), uma equipe de heróis terráqueos bem conhecidos atuando como Tropa Nova, etc.

O autor reserva grande parte da série para violentas batalhas, retratadas muito bem por Deodato, que no geral faz um ótimo trabalho. Gostei muito do primeiro quadro, uma splash page de Luganenhum espetacular. Essa arte virou capa de uma recente e, acredito, inesperada publicação americana que explica todas as raças e mundos alienígenas da “Casa das Ideias”, chamada Hidden Universe Travel Guide – The Complete Marvel Cosmos (veja mais informações no site da editora Titan Books).

Da equipe tradicional dos Guardiões, vemos somente Drax, Rocket e Gamora, com o apoio da Mantis. Ângela é uma das protagonistas, como a própria capa revela, mas em uma outra função, que não vou contar aqui mas tem a ver com a “Justiça de Destino”.

Muitos criticaram os vilões criados para esta história, que “surgem do nada” e não há uma “explicação” para seus poderes. Eu, sinceramente, não vejo isso como algo problemático. É um pouco heterodoxo sim, mas de certa forma o fato de não haver uma explicação didática não torna o vilão menos ameaçador, e leitores veteranos podem dispensar de vez em quando esse tipo de detalhamento em uma primeira aparição, que nenhum mal faz à condução da história, muito menos às batalhas que, como já relatei, é claramente um dos focos desta HQ.

No mais, Gamora tem uma ótima participação dentro do contexto das Guerras Secretas, por um fator recente em seu status quo no “velho” Universo Marvel que, felizmente, não foi esquecido pelo autor (quem leu o Vórtex Negro vai saber). Por falar na megasaga, quem ler somente esta revista por gostar dos personagens ou da dupla criativa, vai ter sim uma história autônoma, de fácil entendimento, mas incompleta por causa do personagem inesperado que aparece no final.

Com muita ação, vilões misteriosos, diversas participações especiais e um bom trabalho especialmente com Ângela e os poucos Guardiões da antiga Galáxia, mais a arte sempre competente de Mike Deodato Jr. e as cores de Frank Martin, fazem deste tie-in de Guerras Secretas uma boa história em quadrinhos.

Nota: 7,0.