Resenha de Guerras Secretas Homem-Aranha #2 – Panini Comics

A Ilha das Aranhas foi uma agitada e marcante saga que envolveu praticamente todo o elenco de personagens associados ao Homem-Aranha. Publicada originalmente em 2011, foi arquitetada e escrita por Dan Slott no modelo de “mini-evento”, ou seja, quando a editora publica uma série de revistas focadas em uma só linha/franquia – bem mais contida, por exemplo, do que as “megasagas”, que envolvem várias franquias, um volume muito maior de títulos e todas mais ou menos interligadas por um período de tempo maior (como estas Guerras Secretas, a propósito).

Na ocasião, a trama central foi desenvolvida no próprio título mensal do Homem-Aranha, mas a Marvel publicou algumas edições especiais e minisséries adicionais. A Ilha das Aranhas original obteve certo sucesso comercial e reconhecimento da crítica como um ótimo exemplo de saga curta, bem planejada e executada. Slott estabeleceu uma grande ameaça à Ilha de Manhattan na figura da Aranha-Rainha, uma espécie de semi-deusa que conseguia, a partir de um vírus, transformar seres humanos e super-humanos em híbridos aracnídeos por um período, até a transformação total em enormes e horripilantes aranhas.

. Volume de Spoilers: moderados.

A Marvel resolveu revisitar essa trama nesta minissérie em 5 partes, escrita por um colaborador habitual de Dan Slott, o (normalmente) ótimo Christos Gage. A história completa foi reunida pela Panini nesta edição #2 de Guerras Secretas Homem-Aranha e, honestamente, está longe de ser um trabalho de qualidade.

A aventura acontece em um Domínio constituído por uma Manhattan já tomada pelos híbridos aracnídeos, comandados telepaticamente pela Baronesa Aranha-Rainha, que ainda por cima conseguiu converter vários dos heróis mais famosos da Ilha em seus guerreiros. Rapidamente tomamos contato com uma força de Resistência, liderada pelo Agente Venon – aquele com o Flash Thompson. Alguns outros heróis imunes aos efeitos da conversão, como o Visão, também participam do pequeno, mas audaz, grupo de opositores.

Um dos maiores problemas com esta história está exatamente na escolha e, sobretudo, na interpretação exagerada das capacidades do protagonista. Em sua boa série solo (que durou 42 números e foi publicada no Brasil na revista A Teia do Homem-Aranha) que, aliás, começou após a saga Ilha das Aranhas original, foi possível acompanhar o Agente Venon em diversas missões de combate. Seu treinamento militar associado à destreza e habilidade do simbionte alienígena o permitia façanhas incríveis. Aqui, porém, ele vai (muito) além, e consegue ser extremamente eficaz e inteligente, elaborando estratégias fabulosas, sobrepujando heróis mais experientes e supostamente capazes, como Capitão América, Homem de Ferro e Homem-Aranha.

Durante o desenvolvimento da história, a cada nova solução encontrada pelo Agente Venon – muitas delas “tiradas da cartola” –  , o  leitor fica mais e mais incomodado com a tal eficácia suprema do herói. Uma dessas soluções é o uso de diversas fórmulas de superciência presentes da mitologia do Homem-Aranha que, por serem extremamente poderosas, deveriam estar melhor protegidas, ou poderiam simplesmente terem sido destruídas pela Aranha-Rainha e seus exércitos. Vale lembrar que ela comanda milhares de soldados híbridos, com força e poderes aracnídeos, que incluem alguns gênios científicos (Stark, Pym, Tchalla) e táticos (Steve Rogers, Carol Danvers). Oras bolas, se Flash Thompson deduziu o que essas fórmulas poderiam causar, certamente eles também teriam pensado nisso, não? Enfim, essas e outras situações são tão inverossímeis que minam a história. Há outros problemas, também, como a falta de carisma (e de inteligência) da própria vilã e outros momentos inacreditavelmente fortuitos, que facilitam os trabalhos da Resistência. Mas nada se compara ao arco final, com a presença de dinossauros (?) ressuscitados!!

A arte de Paco Díaz é agradável, com boas cenas de ação e uma narrativa gráfica correta, embora sem imaginação: os personagens são todos retratados exatamente nas suas características mais populares e, portanto, óbvias. Ele consegue dar conta do ritmo extremamente frenético e repleto de cenas de ação do roteiro, de fato o destaque desta HQ. Há algumas ilustrações que se destacam, em geral de heróis no uso de seus poderes, como o Visão e a Mulher-Aranha. As cores de Frank D’Armata são igualmente tradicionais, em um trabalho mediano, sem inspiração.

O resultado, enfim, é uma história do Agente Venom revisitando um cenário alternativo ao final da saga Ilha das Aranhas original, com muita ação desenfreada, clichês de Resistência-audaz-que-sobrepuja-um-Império-maligno, uma vilã pra lá de esquecível e uma arte ok. A propósito, há pouquíssima relação com o resto das Guerras Secretas. Se você não ler este tie-in, não vai perder nada significativo. Ou seja, não dá para se entusiasmar muito.

Completa a revista uma história de May Parker, a Garota-Aranha de uma realidade alternativa, situada em um futuro próximo ao que era o Universo Marvel do final da década de 90 (tal realidade foi batizada de MC2). Essa heroína é pouco conhecida na Brasil, mas teve ao longo do anos 2000 sua própria – e divertida – revista mensal, com uma audiência devota de fãs. Essa HQ saiu como história secundária na minissérie da Ilha das Aranhas nos EUA e a Panini acertadamente a encaixou na mesma edição nacional.

Os próprios criadores da personagem e que desenvolveram seu vasto universo, Tom De Falco e Ron Frenz, produziram esta história que, curiosamente, parece não estar inserida no contexto das Guerras Secretas. Tenho a impressão que a dupla de autores aproveitou a oportunidade e simplesmente criou uma continuação direta do último status quo deste universo. Há dezenas de personagens, heróis e vilões, a maioria filhos de ícones da Marvel, que contracenam com a Garota-Aranha em uma aventura leve, singela, com sabor dos quadrinhos clássicos de décadas passadas. É a melhor parte desta revista, sem dúvida, e a principal razão para a nota final não ser ainda menor.

Nota 5,5.

Resenha de Guerras Secretas Homem-Aranha #1 – Panini Comics

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A primeira edição estrelada pelo Homem-Aranha conectada à nova realidade de Guerras Secretas, intitulada “Renovando os Votos”, traz o escalador de paredes em uma situação pedida, sonhada, exigida até, por muitos fãs antigos: Peter Parker ainda casado com Mary Jane e, vejam só, criando uma filhinha, a adorável Annie.

. Volume de Spoilers: Poucos, só o indispensável para a resenha.

Muita gente não sabe, ou mal se lembra, mas durante a longa e confusa Saga do Clone de meados dos anos 90, o casal aparentemente teve uma bebê, mas foi algo que nunca foi totalmente esclarecido, ou mesmo confirmado, pela Marvel. Na ocasião, a filha seria chamada de May, mas desapareceu ao final da Saga, supostamente tendo morrido em um desabamento.

Pois bem, graças à reconfiguração trazida pela atual Guerras Secretas, a Marvel resolveu “brincar” com esse fato mal explicado, a partir desta história, originalmente publicada em 5 partes, que a Panini traz aqui completa.

Dan Slott, o argumentista das revistas mensais do Aranha, também ficou com a responsabilidade de imaginar como seria esta família Parker e, acredito, saiu-se muito bem. A história inicialmente apresenta a filha bebê, quando uma grande tragédia acontece com a comunidade heroica de Manhattan. Como sempre, procuro evitar estragar as surpresas para quem ainda vai ler, mas, resumidamente, Slott introduz um poderoso vilão, que consegue efetivamente se tornar um enorme problema. Todavia, o autor não se restringe a ele: um dos mais clássicos inimigos do Homem-Aranha, que marcou profundamente os anos 90, tem uma participação ameaçadora como há tempos não víamos, e vários outros personagens, inclusive heróis, marcam presença em pequenas pontas.

O talentoso desenhista Adam Kubert está inspirado e acrescenta muito movimento nas cenas de ação, sempre com um ótimo storytelling, auxiliado pela arte-final de John Dell e as cores de Justin Ponsor. Mary Jane, JJJ e alguns vilões estão muito bem retratados, e a pequena e valente Annie ficou muito simpática, com grande potencial. E mais: mesmo nesta realidade sob o domínio do medo, Nova Iorque ainda é radiante.

Interessante, também, é como Slott e Kubert pontuam a história com pequenos momentos que estão eternamente associados com “uma HQ do Aranha”, mas que nem sempre aparecem: comentários de pessoas anônimas, das ruas, diante da presença do herói que, por sua vez, se encontra com diversos outros heróis que, em um primeiro momento, não acreditam nele, que para complicar toma atitudes impetuosas, mais a típica correria, a questão da honestidade e da culpa, enfim, esta é uma bela história para os fãs do Peter Parker mais tradicional.

Se há algo a criticar, sem dúvida são algumas soluções muito simples do roteiro para alguns problemas complexos. Em determinados pontos-chave da aventura, tanto no começo como, sobretudo, no final, as grandes mudanças acontecem mais rapidamente do que seria de fato necessário para tornar esta HQ ainda mais memorável.

Contudo, colocando na balança o que foi efetivamente criado, incluindo a premissa da família Parker e, em especial, a caracterização muito crível de como seria uma “pequena filha do Aranha”, e também a ótima arte de Kubert e o clima de história clássica com vários elementos bem desenvolvidos do personagem, fazem desta HQ um dos mais interessantes tie-ins de Guerras Secretas até o momento – mesmo esclarecendo que há pouquíssima conexão com o restante do Mundo Bélico.

Nota: 8,0.

Revista Grandes Heróis Marvel da Panini

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Lançamento da PANINI com heróis populares e preço menor

Quando ouvi pela primeira vez a notícia de que a Panini iria reeditar um dos títulos mais famosos e bem sucedidos da época em que a Editora Abril cuidava dos heróis Marvel, minha primeira reação foi: “Caramba, demorou!”. Afinal, foi nessa revista que tive a oportunidade de ler algumas das melhores hqs de heróis até então. Eu e uma geração inteira de fãs brasileiros.

Como era trimestral, a espera aumentava a ansiosidade dos leitores e permitia à editora encaixar finais de Sagas ou Minisséries inteiras. No geral, cada edição focava em um grupo ou herói diferente e a história não gerava continuação, isto é, terminava ali mesmo e assim a gente só comprava as revistas que realmente nos interessavam.
A estratégia foi muito bem-sucedida, porque os leitores comentavam sempre sobre esse título nas seções de cartas e uma “aura” surgiu sobre a alta qualidade das histórias que saíam no título.

A primeira série durou muito tempo, de 1983 a 1999 e produziu 66 edições, mas fato é que em seus últimos anos ela estava muito menos impactante, parte também por conta da baixa qualidade geral dos Comics do período. Posteriormente, entre 2000 e 2001 a Abril ainda publicou outras duas séries com o mesmo título, mas completamente diferentes em termos editoriais e duraram pouco tempo. Mas e agora, nesta nova encarnação da Panini?

Na prática a nova revista Grandes Heróis Marvel tem pouca coisa em comum com a versão clássica: é mensal, as histórias seguirão independentes dos demais títulos mas ao mesmo tempo terão continuidade, isto é, não são edições fechadas e, portanto, para ler a história completa será necessário comprar 2 ou mais números.
Apesar do nome talvez ser “inadequado”, frente ao seu histórico, a proposta da Panini agrada.

Os dois pontos fortes certamente são: 1 – heróis populares e 2 – preço.

Na edição de estréia, temos Wolverine e Homem-Aranha, provavelmente os dois personagens mais populares da editora hoje em dia, em uma aventura totalmente desvinculada da cronologia.
Assim, atende a uma das queixas mais comuns de inúmeros leitores sobre a dificuldade de acompanhar as revistas tradicionais devido às complexas cronologias que os personagens trazem. É claro que a editora pode mudar essa tática a partir dos próximos arcos, mas existem muitas opções disponíveis com premissas similares.

A questão do preço precisa no entanto de algumas ressalvas: R$ 5,50 por 50 pgs pode parecer caro, mas é com papel especial, ao contrário dos títulos regulares da editora que custam R$ 6,90 com 30 pgs a mais.
Na verdade, enquanto na revista solo do Wolverine ou do Homem-Aranha, por exemplo, a editora publica 3 histórias, nesta são apenas duas. Mas compensa.

A escolha deste primeiro arco – que vai durar até a edição #3 – é acertada por várias razões: a dupla criativa é formada pelo badalado Jason Aaron, que fez algumas das melhores histórias do Wolverine da última década e é o responsável pela cultuada Scalped da Vertigo, e pelo desenhista veterano Adam Kubert que, apesar de ter trabalhado para a Marvel por muitos anos, teve poucas oportunidades de desenhar o Aranha, e ao mesmo tempo comporta em seu currículo uma memorável passagem pelo título do Wolverine nos anos 90 extremamente popular.

Outra razão para investir neste número #1 é que a história de fato é divertida, despretensiosa, mesmo envolvendo viagens no tempo e fim do mundo. Aranha e Wolverine tem momentos no presente, no tempo dos dinossauros (com direito a tribos de humanos!) e no futuro pós-apocalíptico. A confusão começa com o obscuro vilão Orbe e jóias místicas (ou cósmicas?). Não há muita ação nesta primeira parte, e as razões da confusão no tempo ainda não foram explicadas, mas fica a vontade de ler a próxima edição exatamente porque a história é bem contada e os mistérios, intrigantes. Termina com a revelação de que, aparentemente, um dos grandes vilões do Universo Marvel está envolvido.

Esta aventura foi publicada como uma minissérie bimestral e vendeu apenas razoavelmente nos EUA: cerca de 57 mil unidades do #1, caindo a cada edição (processo padrão no mercado) e terminando com 27 mil unidades pedidas nas comic shops. Foi a partir deste título, cujo nome original é Astonishing Spider Man e Wolverine, que a Marvel passou a utilizar o termo “Astonishing” com aventuras produzidas por equipes top e fora da cronologia atual. Lá já saíram edições do Thor com esse mesmo enfoque.