Indicação: Quarteto Fantástico – Mulher Invisível (Panini Comics)

Este simpático encadernado em capa cartão contém uma minissérie em 5 partes completinha, com a história Parceiros no Crime, publicada originalmente nos EUA em 2019 e em novembro de 2020 no Brasil.

Mulher Invisível em capa do grande Adam Hughes

Escrita con mucho gusto pelo tarimbado Mark Waid e desenhada por Mattia De Iulis, é uma revista divertida e esteticamente atraente que, mesmo com uma arte criada digitalmente, apresenta não apenas uma narrativa elegante, clean, como também cores equilibradas e expressões faciais bem construídas, algo raro em artistas contemporâneos.

Sobre a história, sem dúvida alguma um dos grandes destaques – inclusive para leitores veteranos -, é no uso inventivo, até inusitado, dos poderes da Mulher Invisível em vários momentos da trama, e que certamente não poderão ser ignorados daqui em diante.

Além de Susan Storm, o outro personagem-chave desta HQ é Aidan Tintreach, um agente secreto criado para esta série e que teria, de acordo com o retcon aqui apresentado, uma longa história de parceria com a super heroína – daí o título da aventura.

Aidan é o parceiro mais que secreto da Susan Storm

Vale frisar que não é a primeira vez que a Mulher Invisível é mostrada como agente secreta. O próprio Mark Waid revelou esta curiosa faceta da Susan em uma história da finada série mensal dos Agentes da SHIELD com Phil Coulson, de alguns anos atrás e que chegou a ser publicada pela Panini em encadernados.

Acho uma ideia bem interessante, porque furtividade, incursões e fugas perigosas, mas seguras, combinam perfeitamente com o conjunto de poderes daquela que é, provavelmente, a mais poderosa integrante do Quarteto Fantástico.

Sim, a Mulher Invisível dá uma ótima espiã!

Enfim, o que move a história de Parceiros no Crime é quando a CIA conta à Susan que Aidan foi capturado durante uma missão em Morávia (um país fictício do Universo Marvel do em constante conflito, localizado no leste europeu). A prisão do agente estaria ligada com a tentativa de salvamento de jovens americanos no belicoso país.

A Mulher-Invisível decide seguir pistas deixadas por Aidan para, claro, o libertar e também salvar os americanos. Essa busca fará com que ela visite localidades diferentes pelo mundo: Madripoor, Itália, Irlanda e outras, o que é típico de histórias de espionagem a la Guerra Fria.

Por sinal, por ser uma trama de agente secreto no Universo Marvel, o roteirista não perde a chance de inserir participações especiais: Nick Fury (pai e filho), Maria Hill e Viúva Negra.

Uma observação sobre a Viúva: no traço de Iulis, ela apresenta uma feição diferente, mais envelhecida (totalmente condizente com seu histórico) e de expressões “eslavas” (se é que eu posso me permitir esse apontamento) ou, ao menos, “não-europeus do oeste”. Acho esse cuidado mais do que um mero detalhe. As editoras de quadrinhos mainstream americanas deveriam se esforçar mais para acertar os traços físicos dos diferentes povos de nosso planeta. Em geral, os desenhistas se limitam a ajustar roupas e cabelos, mas as fisionomias e corpos são todas meio genéricas, grosseiras, quase sempre clichês de latinos, africanos ou asiáticos. Por isso me chamou a atenção que, mesmo entre “europeus”, para um bom observador há diferenças mais do que sutis. Ponto para o Iulis que, a propósito, é italiano.

Susan Storm Richards e Natasha Romanoff no traço de Mattia De Iluis

Já o desenho da Susan segue o estilo primeiramente apresentado pelo grande Steve McNiven que, lá no começo dos anos 2000, na revista Marvel Knights Fantastic Four, a fez mais longilínea e mais leve, jovial.

Pequenos pontos problemáticos: há algumas soluções excessivamente convenientes do roteiro mas que, a meu ver, não chegam a “estragar” o clima e, de certo modo, fazem parte da vibe das histórias de espionagem, sejam em quadrinhos, livros ou no cinema. Além disso, é possível dizer que o roteiro é mesmo um tanto genérico, ou seja, poderia ser aplicado para qualquer outro agente secreto da Marvel e funcionaria igual mas, por outro lado, perderíamos a chance de vermos os poderes de invisiblidade sendo usados de forma criativa e, talvez mais importante, de acrescentar novas camadas e possibilidades para a personalidade e a história individual da Mulher Invisível, algo que a torna ainda mais especial e “descolada” da sua vida no Quarteto Fantástico.

Susan infiltrada na alta classe europeia.

Para encerrar, diria que sim, é uma revista de muito bom nível, com uma arte bem bonita, diálogos que deixam a leitura agradável e tem a vantagem de ser uma história auto contida e ótima, portanto, também para quem não acompanha o Universo Marvel em geral ou não costuma ler HQs do Quarteto.

O final é emocionante como precisava ser e, após a leitura, fica o gostinho de que não só valeu a pena como seria interessante a mesma dupla criativa contar novas histórias do lado menos visível da Mulher Invisível.

Nota 8,0.

Lido: Marvel Knights 4 – Jogados aos Lobos

MarvelKnights4JogadosLobos

. Volume de Spoilers: Poucos, só para contextualizar…

Foi uma grata surpresa a chegada deste Encadernado do Quarteto Fantástico. Antes da resenha, contudo, valem duas ressalvas: a primeira é que trata-se de uma republicação e a segunda é que, se você não suporta histórias centradas nestes personagens e com praticamente zero de ação, melhor ignorar este Especial. Isto posto, vamos lá!

No final de 2003, a Marvel anunciava o lançamento de uma revista com o Quarteto Fantástico do Universo Ultimate (escrita pela dupla de peso Brian Bendis e Mark Millar), enquanto no Universo Tradicional, trocava a badalada equipe criativa da revista regular – escrita por Mark Waid e desenhada pelo já falecido Mike Wieringo – pelos novatos Roberto Aguirre-Sacasa e Steve McNiven.

Contudo, como a reação dos fãs foi extremamente negativa, o então Editor-Chefe Joe Quesada voltou atrás (!) e decidiu recontratar a dupla Waid-Wieringo para o título tradicional. A essa altura, no entanto, a “nova-velha” dupla Sacasa-McNiven já havia produzido material e, para não desperdiçar essas histórias e romper o contrato, a editora apostou em uma terceira revista mensal estrelada pelo Quarteto.

Nasceu, assim, a “4” (Four) que, por ter um enfoque diferenciado, distante do atribulado universo regular e suas grandes sagas interligadas, saiu sob o selo Marvel Knights, na época utilizado em títulos com maiores liberdades criativas e histórias fechadas, ou “independentes”.

Sobre esta edição, chamada “Jogados aos Lobos” e que compila as 7 primeiras revistas da série, acompanhamos o Quarteto em uma situação completamente atípica: enganados por um contador inescrupuloso, a equipe se vê, de um dia para o outro, completamente falida. Sem recursos, precisam abandonar o icônico Edifício Baxter e procurar empregos para pagar aluguel, cama e comida!

O autor consegue, ao longo das 4 primeiras histórias, explicar com certa coerência as razões que levaram a esse momento delicado, mas centra foco – acertadamente – nas relações entre os membros da família, desenvolvendo brilhantemente as personalidades de cada herói, especialmente Sue Storm, por sinal belissimamente ilustrada por McNiven. Em seu traço, a Mulher Invisível ganha confiança, jovialidade, elegância e sensualidade (sim, isso tudo!). Além dela, vemos momentos interessantes com todos os membros da “família fundadora” (um dos apelidos da equipe, por ter sido o primeiro título da Era Marvel), em diálogos ponderados e sem excessos. Não há batalhas com super-vilões mas, acredite, eles não fazem a menor falta.

As 3 histórias que fecham o encadernado, contudo, apresentam uma situação que clama por uma atuação mais heróica dos personagens, com inimigos que transitam dentro do habitual da equipe, mas ainda assim de um modo completamente inovador e até cômico.

A leitura desta edição é fluida, agradável, sempre com situações interessantes. A arte é quase sempre muito bonita e, graças ao papel couchê, finalmente ganha o brilho das cores e detalhes que merece, ao contrário da primeira vez em que foi publicada, na finada revista Marvel Apresenta (em 2005).

O título Marvel Knights: 4 teve uma boa duração nos EUA, gerando 30 edições entre abril de 2004 a agosto de 2006, todas escritas por Roberto Aguirre-Sacasa, até então um promissor autor de peças de teatro mas inexperiente com HQs. Pelo trabalho, ganhou um prêmio Harvey por “Melhor Novo Talento”. Posteriormente, ele ainda escreveria uma revista solo do mutante Noturno (inédita no Brasil), várias aventuras do Homem-Aranha e uma adaptação para os quadrinhos dos romances The Stand de Stephen King. Na Televisão, escreveu capítulos e foi co-produtor das séries Glee e Big Love.

Já a carreira do desenhista Steve McNiven deslanchou dentro da Marvel, especialmente depois da clássica saga Guerra Civil (2006-2007). Fez Vingadores, Capitão América, Wolverine e, atualmente, está com os Guardiões da Galáxia.
Fica a expectativa para os próximos volumes. A Panini já programou para este mês a sequência. A maior parte destas HQs ainda são inéditas. Vamos ver se, desta vez, os leitores brasileiros conseguirão ler a íntegra de Marvel Knights: 4.

Nota Final: 8,0.