Esta revista contém dois tie-ins das Guerras Secretas, ambos originalmente publicados pela Marvel Comics no formato de minisséries em quatro partes: a própria Era de Ultron versus Zumbis Marvel – de James Robinson e Steve Pugh; e Zumbis Marvel – de Simon Spurrier e Kev Walker. São histórias independentes que a Panini juntou em uma publicação especial, maior do que a média de suas edições.
. Volume de Spoilers: leves.
“Jornada à Miséria” é o nome da história de Zumbis Marvel. Para quem não conhece, Marvel Zombies foi uma criação inusitada da editora, idealizada por Mark Millar enquanto escrevia o título do Quarteto Fantástico do Universo Ultimate e que, ao ganhar sua própria minissérie (escrita por Robert Kirkman, antes de estourar com The Walking Dead), teve uma grande repercussão na crítica e (parte) do público, que adorou acompanhar as aventuras canibalescas de heróis Marvel transformados em zumbis superpoderosos. Essa “equipe” ganhou várias revistas e especiais nos últimos anos, mas não são as estrelas desta história.
Como tem acontecido com outros títulos de “eventos famosos” usados nas Guerras, a Marvel não entrega o óbvio e coloca como protagonista uma de suas ótimas personagens de 5º escalão: Elsa Bloodstone.
Poucos leitores conhecem a personagem, que é filha de Ulysses Bloodstone, um lendário caçador de monstros imortal, que a treinou para seguir seu legado. Elsa teve um maior destaque quando participou da equipe Nextwave, de 2006, mas, a julgar pela sua performance nesta história, podemos esperar mais da personagem nos próximos anos.
De fato, ela é a grande estrela da revista inteira, com uma presença espetacular, heroica, guerreira, incansável e impressionante. Nesta realidade, é uma das Comandantes do Deus Destino no Escudo, a enorme muralha que separa as hordas de zumbis e outras ameaças dos reinos do Mundo Bélico. Logo no começo, em um ataque maciço dos mortos-vivos, Elsa enfrenta o Terror Rubro, uma distorção vilanesca do Noturno, que a carrega para o “lado errado” da muralha. Salva por uma criança misteriosa, Elsa vai, então, percorrer as Terras Mortas procurando uma saída ou, ao menos, uma forma de salvar a criança. Além de enfrentar diversos vilões zumbificados, a guerreira embarcará em uma jornada física e mental exaustiva, com árduas recordações de sua infância e batalhas sangrentas e desafiadoras.
O autor, Simon Spurrier, surpreende com a segurança que demonstra com a protagonista, criando nuances bem construídas de sua personalidade, além de um roteiro realmente instigante, com muitos momentos chocantes e inesperados, tudo de forma natural, sem pesar a mão, com reviravoltas mas também revelações e transformações, que fazem o leitor se encantar ainda mais com a caçadora de monstros. Spurrier comprova que é mais do que um escritor regular – vale lembrar que é o responsável pela ótima série solo do Legião (X-Men Legacy), que certamente contribuiu para o desenvolvimento do seriado televisivo com o mutante, que está prestes a estrear nos EUA.
Kev Walker é um talentoso – mas pouco reconhecido – desenhista da Casa das Ideias e aqui faz um de seus melhores trabalhos. As cores de Frank D´Armata ressaltam a aridez das Terras Mortas, mas é nas batalhas, na concepção dos Zumbis vilanescos podres e em pedaços (inesquecível a aparição de um Doutor Octopus) e, principalmente, no duelo final que o trabalho da dupla realmente brilha. Seu traços estilizados não são exageradamente disformes, trazendo doçura para uma criança e também agressividade e desgraça para os inúmeros mortos-vivos da história. Ele consegue acertar até mesmo em momentos de humor negro, como na impagável participação de um certo mercenário tagarela. A composição das páginas também é impressionante e faz a história avançar no ritmo certo.
Talvez inesperadamente, Zumbis Marvel é uma das melhores HQs das Guerras Secretas mas ficou escondida sob o título desta edição da Panini, que destaca a outra (e inferior) história. Vale a pena conhecer o excelente trabalho da dupla de artistas.
Nota para Zumbis Marvel: 8,5.
“Um Forasteiro na Cidade” é o nome da segunda história da revista, com a minissérie da Era de Ultron Versus Zumbis Marvel e apresenta, como se espera, um pouco da batalha entre as forças dos mortos-vivos, aqui liderados por um Zumbi Magneto, contra os exércitos robóticos de Ultron.
Como conceito, é até interessante imaginar as duas facções se enfrentando, mas a história não gira em torno disso. O autor, James Robinson, cria uma cidadela no meio das Terras Mortas como santuário para sobreviventes chamada Salvação. Esse local é comandado, vejam só, por heróis ligados ao criador do Ultron, Henry Pym. Então, temos na verdade uma história estrelada pelo trio Visão, Magnum e o Tocha Humana original, o androide que foi o segundo personagem criado para a Marvel (Namor seria o primeiro).
A HQ começa apresentando a chegada de uma jovem versão de Henry Pym à cidadela, que procura uma forma mais eficiente de se defender dos ataques dos Ultrons e Zumbis. Durante a série, enquanto Pym tenta descobrir uma forma de ajudar, conheceremos a história de sua realidade, a Timely (sim, o primeiro nome da editora).
Robinson tenta juntar muita coisa ao mesmo tempo, mas o resultado é confuso e inevitavelmente forçado. Sem estragar a história, teremos sim muita violência e carnificina, como é de se esperar em uma HQ dos Zumbis Marvel, mas como os personagens não são bem desenvolvidos, e é difícil acreditar nas justificativas para a própria existência de Salvação diante de tantos inimigos, a leitura perde o impacto. Há algumas situações interessantes, mas talvez o único motivo para alguém realmente se interessar pela HQ é se curte os heróis envolvidos.

A família heroica de Pym
A arte é de Steve Pugh, outro ex-DC (recentemente fez o Homem-Animal dos Novos 52), que apresenta um bom estilo retrô – sobretudo nos heróis e quando retrata a realidade da Timely, mas não consegue transformar esta história em algo muito melhor, principalmente pela esdrúxula situação que permite a batalha final (novamente, sem spoilers!) não ser “traduzível” em algo visualmente interessante.
Com uma ideia razoavelmente promissora, esta história traz muito mais elementos do que consegue dar conta, resultando em situações absurdamente inacreditáveis. A leitura não chega a ser arrastada nem mal produzida, mas não há nada de especial também.
Nota para A Era de Ultron Versus Zumbis: 5,0.
Nota Final desta edição da Panini: 6,5.