A terceira edição de aventuras de equipes X-Men no Mundo Bélico revisita o inesquecível período de histórias produzidas pelo escocês Grant Morrison, entre 2001 e 2004, usando como título o nome do primeiro arco dessa fase: E de Extinção.
. Volume de Spoilers: nenhum.
Para quem não leu, Morrison trouxe uma abordagem radicalmente diferente nos roteiros, nos adversários, na formação da equipe, nos dilemas e em outros aspectos, incluindo ao menos um retcon polêmico: o Professor Charles Xavier teve secretamente uma irmã gêmea, também telepata e completamente maligna, chamada Cassandra Nova. Ela é a vilã da E de Extinção original.
Nesta nova história, os roteiristas, Chris Burnham e Dennis Culver, apresentam uma realidade alternativa criada a partir de um novo desfecho do duelo entre Xavier e Cassandra. Sem estragar a surpresa, a escolha dos autores é muito interessante, porque todos que leram a história original certamente se recordam desse momento e as possibilidades por ele geradas são inúmeras, pois afetariam amplamente o universo dos mutantes. Burnham é uma escolha curiosa da Marvel, porque ele é um dos grandes parceiros de Morrison nos últimos anos, mas em trabalhos na DC Comics e na função de desenhista, não roteirista (as capas desta revista são dele).
As quatro partes desta história trazem muitos dos “Novos X-Men” criados por Grant Morrison, como o Bico, as Irmãs Stepford, Quentin Quire e Xorn. O mais surpreendente, contudo, é observar como Burnham e Culver conseguem mimetizar o clima único daquelas HQs: personagens agindo com extrema frieza, traços e layouts esteticamente sujos, minimalistas, textos crus e ação brutal, com uma violência gráfica até então inédita nas revistas dos mutantes.
Contudo, vale lembrar que muitos fãs dos X-Men de Chris Claremont e de outros escritores torceram o nariz para essa visão “moderna” de Morrison. Por isso mesmo, a qualidade da nostalgia gerada nesta leitura varia bastante conforme a experiência de cada leitor com essa fase. Pessoalmente, gostei muito de alguns arcos e muito pouco de outros, mas avalio como positivo o saldo deixado por Morrison e seus colaboradores por ampliar o elenco e, principalmente, por diversificar o estilo de histórias dos X-Men.
Mas, voltando à este tie-in de Guerras Secretas, vamos acompanhar o embate entre Magneto e uma equipe de jovens X-Men contra os pupilos de Xavier, que no começo da história estavam dispersos e semi-aposentados. Gostei dos diálogos entre o vasto elenco, especialmente entre Ciclope e Wolverine, e do bad boy Quentin Quire. Há muitas reviravoltas e batalhas e destaco a chegada de um personagem (na última página da parte 2) que, confesso, não consegui compreender direito na época em que Morrison o apresentou. Aqui, finalmente, entendi suas motivações. Tal personagem foi uma das muitas pontas soltas daquele período que o autor deixou sem uma boa explicação.
A propósito, assim como os últimos arcos do escocês são repletos de pontos de interrogação, nesta nova história o epílogo também é enigmático – outra emulação da fase na qual se inspira.
Em termos de arte, os desenhos de Ramon Villalobos são um misto de dois dos principais artistas daquele período dos mutantes: Frank Quitely e Igor Kordey. Às vezes, reconhecemos mais de Quitely nos quadros clean, nas poses displicentes dos heróis, na própria distribuição de painéis da narrativa, e mais de Kordey nos layouts de alguns personagens, como na Angel, Rainha Branca e Xorn. As cores de Ian Herring completam bem esta caracterização extrema dos X-Men de Morrison.
Vale dizer ainda que E de Extinção não traz nenhum elemento significativo das Guerras Secretas. É totalmente independente, quase um “What If…” do primeiro arco dos X-Men de Morrison, e não um tie-in da megassaga. Se você curtiu esses anos radicalmente inovadores dos mutantes, provavelmente vai gostar muito desta edição. O roteiro é instigante, principalmente pelas constantes (re)descobertas de personagens e reviravoltas (quase sempre) plausíveis. Muita coisa acontece ao longo das quatro partes, mas o final misterioso e a falta de conexão com o Mundo Bélico não tornam esta revista verdadeiramente indispensável.
Nota 7,0.